29/09/2009

O Presidente falou...

... e não disse nada que se aproveitasse!

O Sr. Presidente da República falou e, mais uma vez, não conseguiu ser claro nem na forma, nem no conteúdo, nem no objectivo.
Pretendeu justificar algo em que se viu envolvido (ou se envolveu) e tentou tapar o sol com uma peneira.


Já o aqui disse por mais do que uma vez, e esta declaração só vem dar mais força a esta ideia: a degradação das relações institucionais entre o Governo e a Presidência tem na instituição "Presidente da República" a principal responsável.

O Sr. Presidente Cavaco Silva começa a sua declaração dizendo que «não existe em nenhuma declaração ou escrito do Presidente qualquer referência a escutas ou a algo com significado semelhante».
Justifica, por isso, a sua decisão de afastar o assessor envolvido nesta polémica no facto de «o e-mail publicado deixava a dúvida na opinião pública sobre se teria sido violada uma regra básica que vigora na Presidência da República: ninguém está autorizado a falar em nome do Presidente da República, a não ser os seus chefes da Casa Civil e da Casa Militar. E embora me tenha sido garantido que tal não aconteceu, eu não podia deixar que a dúvida permanecesse. Foi por isso, e só por isso, que procedi a alterações na minha Casa Civil.»

Além de chegar à conclusão que todas as "fontes" da presidência, excepto os chefes da Casa Civil ou da Casa Militar, não são credíveis entendo também que há dois pontos importantes a reter: ou o responsável pelo jornal Público mentiu (e por escrito) inventado encontros e suspeitas, e o próprio Presidente a levanta també esta suspeita («Desconhecia totalmente a existência e o conteúdo do referido e-mail e, pessoalmente, tenho sérias dúvidas quanto à veracidade das afirmações nele contidas.») ou alguém na Presidência está a mentir.

Não posso, no entanto, de deixar de recordar as palavras de Nicolau Santos (cujas crónicas semanais no jornal Expresso sigo com alguma atenção) sobre o assessor que, segundo Cavaco Silva não falou com ninguém:
«Eu, que tive em Fernando Lima o meu primeiro chefe quando entrei no jornalismo, ponho as mãos no fogo: ele nunca daria um passo destes, num assunto extremamente sensível, sem a aquiescência, ou pelo menos o conhecimento de Cavaco Silva. Só quem não conhece Lima pode supor outra possibilidade.» (aqui).
Curiosamente, outras pessoas ligadas aos meios de comunicação também fazem este tipo de avaliação sobre o Sr..


No fim do discurso ficou, parece-me claro, tudo por esclarecer. As palavras de uns contra os escritos de outros.

No que me parece ser uma tentativa de justificar toda esta embrulhada em que viu envolvido, alude a «declarações de destacadas personalidades do partido do Governo» sobre a participação de membros da sua casa civil na elaboração do programa do PSD e que mais uma vez, segundo o Sr. Presidente, não passavam de mentiras («de acordo com a informação que me foi prestada, era mentira»).
Pois as referidas declarações não passavam de comentários e interpretações no seguimento de notícias publicadas sobre a participação de assessores da Presidência na elaboração do programa eleitoral do PSD, inclusivamente anunciadas pelo próprio PSD no seu sitio de Internet.
Parece-me que, também neste ponto, o Sr. Presidente terá sido mal informado.

A seguir voltam-se a misturar temas, anunciando que «A primeira interrogação que fiz a mim próprio quando tive conhecimento da publicação do e-mail foi a seguinte: “porque é que é publicado agora, a uma semana do acto eleitoral, quando já passaram 17 meses”?»

Será sou eu que não sei fazer contas ou as eleições foram a 27 de Setembro e a primeira notícia sobre as suspeitas de escutas na Presidência foram publicadas no jornal Público de dia 18 de Agosto?
Será que em Agosto todos podiam falar em nome do Presidente e da Casa Civil e só agora é que isso é ir contra a regra?
Por que razão, logo nessa altura, o Sr. Presidente Cavaco Silva não esclareceu que ninguém fala por ele?
Estranho timming, não?!...

Mas tudo isto, diz-nos o Sr. Presidente, com dois objectivos claros: colar a imagem do Presidente ao PSD e desviar as atenções dos portugueses dos assuntos que eram de facto importantes.

Esta parece-me ser a maior e a melhor evidência que a imagem do Sr. Presidente está de facto colada ao PSD. Não porque o PS o tenha feito ou tentado sequer, mas sim porque o próprio Presidente da República o faz.
É o Sr. Presidente Cavaco Silva que vem hoje anunciar (mais) uma teoria da cabala com origem no PS juntando-se assim, recordemos, ao PSD que passou uma campanha eleitoral inteira a promover este tipo de insinuações infundadas desviando, isso sim, as atenções do que de facto era importante discutir.
Se isto não é colar imagens ou discursos então não sei o que será!

No fim, nem sei bem a que propósito, ficamos todos a saber que toda situação culmina no facto do sistema de comunicações da Presidência não apresentar um nível de segurança que seria desejável.
Recorde-se que, mesmo com «vulnerabilidades», o e-mail que coloca um assessor da Presidência e o próprio Presidente no centro de toda a polémica não saiu da Casa Civil mas sim do Jornal Público (ainda que o sistema de comunicações não tivesse sido violado como concluíram elementos desse órgão de comunicação social)

Em conclusão:
o sr. Presidente, como o fez já em situações anteriores, veio ocupar espaço de antena de forma completamente atabalhoada e sem qualquer explicação cabal, lançado para a praça pública declarações sem qualquer fundamentação baseadas em interpretações pessoais.
Se as relações entre a Presidência e o actual e futuro Governo (assim se espera) já não estavam estáveis, o Sr. Presidente veio colocar mais uma acha na fogueira com aquilo que considero ser uma tentativa de sacudir a responsabilidade duma situação que continua por esclarecer. Perdeu-se hoje mais uma boa oportunidade para esclarecer toda esta situação e criaram-se condições para continuar a alimentar todos estes disparates e complexos de perseguição.

Ou terá sido esta uma forma encontrada no sentido de criar condições para "justificar" alguma surpresa futura?... Os próximos dias o dirão...



27/09/2009

Resultados I



Estão apurados os resultados para as 4.260 freguesias, faltando ainda os votos dos portugueses no estrangeiro que equivalem a 4 mandatos na AR.

Perante estes resultados, ainda que provisórios, podemos verificar o seguinte:

- A julgar pela distribuição dos dois mandatos da "Europa" e os outros dois de "Fora da Europa" em eleições anteriores, muito provavelmente os PS ficará com 97/98 deputados e o PSD 81/80;

- Numa primeira análise, o PS terá perdido cerca de meio milhão de votos (504.741) e, a confirmar-se o ponto anterior, terá menos 24 deputados na Assembleia da República. Ainda assim deverá considerar-se um bom resultado tendo em vista a iniciativa reformista que este Governo teve e o clima social e económico que vivemos (em verdade, não exclusivamente português);

- O PSD terá aumentado o número de votos em relação ao resultado de 2005 nuns aparentes 6.857 votos (3 deputados), isto é, mais 0,39% que o resultado obtido por Pedro Santana Lopes. No entanto, devemos lembrar que na altura o PSD concorreu coligado com o PPM e MPT que equivalem a cerca de 15.000 votos (visto que o MPT este ano se coligou com o PH, que em 2005 obteve mais de 16.000 votos, considero para efeitos apenas os votos do PPM que são facilmente identificáveis). Penso, por isso, que podemos arredondar os números e estimar que, para já, o PSD terá tido um aumento real de cerca de 20.000 a 22.000 votos nestas eleições - "objectivo cumprido" dizem alguns dirigentes do partido ainda que reconheçam a derrota (tal como previa, os únicos a fazê-lo) visto que pretendiam ser o partido mais votado.
Julgo que o PSD perdeu muito em centrar a sua campanha nas "conspirações" e, principalmente, no apelo ao voto de protesto.
Já começaram a soar as vozes discordantes e, como era expectável, António Preto e Helena Lopes da Costa foram eleitos para deputados na AR pelo círculo eleitoral de Lisboa.
Com este resultado, uma repetição do obtido em 1985, não se prevêem dias pacíficos no interior do PSD.

- O BE aumentou o número de votos em 192.702 e com isso a sua representação na AR passou de 8 para 16 deputados. Deixa assim de ser o 5º partido com representação parlamentar passando a ser o 4º.
A maior "queda", ainda que também com aumento de votos (mais 14.174) e deputados (mais 1), é a da CDU que deixa de ser a 3ª força representada para passar a ser a 5ª.

- Paulo Portas e o CDS-PP conseguiram dois objectivos importantes: serem superiores ao BE e assumirem-se como a 3ª força na AR. A campanha centrada na questão dos subsídios, nomeadamente o RSI, conseguiu chamar muitos eleitores a votar CDS-PP. Verifica-se um aumento de 177.142 votos e 9 deputados.
Com este resultado, Paulo Portas e os seus deputados podem ter adquirido um valioso "poder negocial" no que respeita à aprovação de diplomas no Parlamento... e Portas sabe disso.

- Constata-se que PSD e CDS-PP juntos, comparativamente com 2005, tiveram um aumento de votos que rondam os 185.000 a 200.000 este ano significando que esta duas forças cresceram apenas 3% a 4% em relação a 2005, muito graças ao CDS.

- A abstenção, a confirmar-se nos 39,40%, é a maior desde 1976. Este foi também o acto eleitoral com maior número de inscritos.

- Com o aumento dos inscritos e da abstenção verificados nestas eleições, parece-me pouco correcto, sem dados que o comprovem, especular sobre as deslocações do eleitorado.

Para ver melhor o quadro que elaborei basta premir em cima da figura.

Voltarei ao tema assim que os resultados sejam definitivos e com as devidas actualizações.


Projecções - Análise

Foram conhecidas as primeiras projecções (CESOP, Eurosondagem e Intercampus) que dão a vitória ao PS.
Como habitualmente em todas as outras eleições anteriores, todos os partidos são vencedores... mesmo que não ganhem!
Há sempre objectivos atingidos e feitos conquistados (curiosamente nunca há perdedores).
Para estes resultados prevejo o mesmo discurso com excepção para o PSD.
A confirmarem-se as projecções é o maior perdedor de todos.

A expectativa centra-se nos resultados nacionais do CDS-PP e BE e no resultado final do PSD.
No que concerne ao primeiro ponto de interesse, ficaremos a saber se o objectivo do CDS-PP em retornar ao lugar da 3ª força política na AR (com isso ficar à frente do BE), será ou não atingido e que consequências isso terá na direcção do partido - recordemos as razões da demissão de Paulo Portas na sequência dos resultados das legislativas de 2005.
O segundo aspecto é o resultado final do PSD, visto que todas as projecções, e já aqui anunciadas, admitem como provável um resultado inferior ao de 2005 (28,70%).

Um dado que se verifica desde já, é a perda da maioria absoluta pelo PS, e que será aproveitada para justificar os resultados dos partidos de oposição. Há que realçar, no entanto, que as projecções apontam para um bom resultado se tivermos em conta o ambiente social e económico em que vivemos.

Dois pormenores:
- As forças de "esquerda" permanecem em maioria na Assembleia da República;
- A abstenção perspectiva-se superior à verificada em eleições anteriores (34,98% em 2005). Mais alta até que aque se verificou em 1999 (38,16%).


Projecções - CESOP



Min Max
PS 36,0% 40,0%
PSD 25,0% 29,0%
CDS 8,5% 11,5%
BE 9,0% 12,0%
CDU 7,0% 10,0%


Projecções - Inetrcampus



Min Max
PS 36,0% 40,0%
PSD 26,3% 30,3%
CDS 8,6% 11,6%
BE 8,5% 11,5%
CDU 6,0% 9,0%

Projecções - Eurosondagem



Min Max
PS 36,2% 40,4%
PSD 26,9% 30,7%
CDS 7,7% 9,9%
BE 9,0% 11,2%
CDU 6,5% 8,7%

Afluência - 16h

Até às 12h00 haviam participado 21,29% do eleitores. Cerca de 200 mil a mais que em 2005.
No entanto, às 16h00 haviam já votado 43,30%. Em 2005, à mesma hora, contavam-se cerca de mais 380 mil eleitores do que este ano - a participação rondava na altura os 51%.

Só às 20h00 ficaremos a saber se a abstenção este ano será superior ou inferior à das últimas legislativas.



25/09/2009

Sondagens e Campanhas

Apesar do volume de sondagens feitas no período que antecede estas legislativas, e para as quais fiz uns gráficos de variação (evolução) para melhor análise, é preciso deixar claro o seguinte: as sondagens não são previsões!
Não será de espantar se os resultados finais se revelarem, em alguns casos, bastante mais além das margens de erro apresentadas pelas empresas e centros de sondagens (a mais baixa de 1,75% e a mais alta 3,58%) pois um dado importante em todos estes estudos de opinião foi a elevada percentagem dos "Não Sabe/Não Responde".

A campanha eleitoral.
Foi melhor a pré campanha do que a campanha eleitoral. A razão é simples: na pré campanha foram apresentados, discutidos e desmistificados programas eleitorais (uns mais que outros) pelo seu maior ou menor conteúdo e na campanha eleitoral as ideias ficaram para trás sendo que o centro da discussão foram casos, pseudo-casos, coligações imaginárias ou maledicência.

CDU - Humildade do seu líder. Jerónimo de Sousa consegue cativar pela simpatia. Pena que o discurso se repita.

BE - A desconfiança no programa do BE começa na pré campanha com a questão dos benefícios fiscais que pretende eliminar. A questão dos dirigentes do partido que apostaram em PPR's e em acções na bolsa (outra bandeira do partido) também não ajudaram a manter a imagem que Louçã, directamente envolvido, transmitia de seriedade e coerência.
Ficaram por explicar os custos, formas e consequências das nacionalizações propostas.
Já agora, «Fim de rodeos», essa actividade tão portuguesa, é na verdade uma proposta do BE - página 76!

CDS-PP - Portas soube explorar a sua imagem, a questão da segurança (ou a falta dela) e o RSI. Atacou os partidos da esquerda e ainda o PSD, este último sempre com muito jeitinho não vá ter que se coligar novamente.
Demasiadas propostas demagógicas.

PSD - Um partido que conseguiu em ambos os períodos (pré campanha e campanha) mostrar-se pouco preparado para ser alternativa. Muitas contradições e incoerencias, o repetitivo discurso da "asfixia" (com dois monumentais tropeções: a asfixia democrática que não existe na Madeira mas existe no continente e o caso das escutas que afinal não tiveram qualquer interferência do Governo). Ainda o "caso TVI", onde apenas existem suposições mas que são usadas como certezas, demasiadamente usado esquecendo o caso TVI/Marcelo Rebelo de Sousa onde o PSD foi protagonista principal; a desculpa despropositada de que o TGV interessa mais aos espanhóis e que as obras públicas contribuem certamente para dar emprego a ucranianos e cabo-verdianos; enfim, um rol de atrapalhações e aberrações que não contribuem certamente para credibilizar o (vago) programa eleitoral do partido assim como transmitir confiança ao eleitorado (ou pelo menos uma parte dele).
Julgo que escapou aos olhos dos jornalistas que tanto gostam de "casos" a pouca importância que a líder do PSD deu a Pedro Passos Coelho que, apesar de afastado por esta, apareceu na campanha.
A inclusão de candidatos acusados de corrupção e a forma como as listas foram elaboradas (afastando as vozes discordantes) não contribuiu em nada para a suposta "Política de Verdade" do PSD.
No meio de tudo isto, ficaram por apresentar as propostas e soluções do PSD para Portugal.

PS - Uma grande máquina de campanha a funcionar. Sócrates centrou-se na apresentação do trabalho realizado em 4 anos e no que pretende para os próximos 4. Deixou para outras figuras os principais ataques à oposição. Marcou pontos quando conseguiu encostar o BE à extrema esquerda desmontando parte do programa eleitoral e beneficiou ainda com a denúncia da eventual tentativa por parte da presidência de encomendar notícias que colocariam em risco a imagem do Governo (acentuada com o afastamento dum elemento da Casa Civil por iniciativa do Presidente da República).
O "caso TVI", sem que haja qualquer dado factual que comprove a relação PS/Governo com a situação, demagogicamente aproveitado, e a opinião de Mário Soares sobre eventuais coligações (quando para qualquer dos partidos o tema estava encerrado) pode ter custado ao PS alguns votos durante este período eleitoral.
Não obstante a união no PS conseguida nesta campanha, as medidas implementadas (e necessárias), nem sempre da melhor forma, nos 4 anos deste Governo custaram certamente a renovação da maioria absoluta.
São as vicissitudes de se implementar reformas que englobam os "poderes instalados" e a resistência natural do ser humano à mudança (mesmo antes de saber quais as consequências dessa mudança).


Ainda assim, é importante votar. Mas mais importante é votar em consciência. É necessário distinguir a realidade da demagogia e da utopia.
Acho que, apesar de ter sido uma má campanha eleitoral com consequências para imagem da classe política, ficaram claros os caminhos que cada partido pretende para Portugal.
É necessário escolher e escolher bem!
As cartas estão na mesa... os trunfos estão à vista!



Sondagens - variação Marktest

Sondagens - variação Intercampus

Sondagens - variação Aximage

Sondagens - variação Eurosondagens

Sondagens - variação CESOP

(deu algum trabalhino fazer isto...)

23/09/2009

A frase do ano I

Uma frase candidata ao troféu "A frase do ano":

«Um país moderno é aquele em que, perante a corrupção, não se pode encolher os ombros [...]»
Manuela Ferreira Leite - aqui


Duas hipótese para apenas uma conclusão: ou a líder do PSD aspira um Portugal retrógrado ou, acredito eu, ter-se-á esquecido desta teoria quando elaborou as listas de candidatos incluindo candidatos acusados (e com julgamento marcado para Outubro/2009) por actos de corrupção e falsificação de documentos.

... Já diz o povo: "olha para o que eu digo e não para o que eu faço"!


21/09/2009

Cooperação... mas que cooperação?

Já o tinha escrito aqui neste blog: é minha clara convicção que não é o Governo o único responsável pelas (supostas) más relações entre este orgão e o Sr. Presidente da República - arriscaria dizer até que, neste aspecto, a maior fatia da responsabilidade cabe mesmo à Presidência; e escrevi também que não seria para mim uma surpresa se se confirmasse que a notícia das supostas "escutas" feitas pelo Governo em Belém fosse uma farsa a pedido.

Esta notícia, vem reforçar isso:

«Lisboa, 21 Set (Lusa) -- O Presidente da República, Cavaco Silva, afastou hoje Fernando Lima do cargo de responsável pela assessoria para a Comunicação social, que passará a ser desempenhado por José Carlos Vieira.

Segundo disse à Lusa uma fonte oficial da Presidência da República, trata-se de uma "decisão do Presidente da República".

No 'site' da Presidência da República o nome de José Carlos Vieira já se encontra como o assessor para a Comunicação Social.»

(novamente uma «fonte oficial da Presidência da República»... recordo, mais uma vez, que as instituições têm "porta-voz" e não fontes oficiais!)

Lembro que o Sr. Presidente veio dizer que ficava em silêncio nesta fase e que após as eleições iria pedir mais informações sobre segurança. Ainda, quando lhe perguntavam se de facto a notícia tinha tido origem na Presidência, respodia à jornalista que a Sra. não seria ingénua e que ele, o Sr. Presidente, também não o era.

É um facto que o Sr. Presidente ficou em silêncio e não entrou na luta partidária tal como anunciou, mas teve uma acção que revela, para já, existir um indício de que, muito provavelmente, não é o PS que está na origem de mais uma trica entre estas duas instituições, naturalmente utilizada demagogicamente por alguns partidos da oposição (o discurso sobre o estatuto político-administrativo dos Açores, a piada do jipe, etc. são apenas outros exemplos).

Impõem-se, nesta fase, a necessidade dum claro esclarecimento da Presidência relativamente a este afastamento, pois não podemos esquecer que a notícia divulgada pelo DN indica que a iniciativa parte do próprio Presidente.

Embora não lhe reconheça essa humildade, gostaria também de ver a Sra. Manuela Ferreira Leite tentar retratar-se da afirmação proferida do alto da sua Verdade: «não me interessa se há escutas ou não, o que interessa é que as pessoas achem que há».
É importante saber o quanto antes a quem é que as pessoas devem o "achar que há escutas"!

Falar do que não se sabe

Falar do que não se sabe e se julga saber tudo é algo que Manuela Ferreira Leite segue religiosamente. É, seguramente, por se sentir superior a tudo e a todos que nos brinda diariamente com os seus rasgos de ignorância declarada.

Desta vez, a Sra. dá a conhecer a sua supra sapiência em matéria de sondagens. Quando, em entrevista ao Correio da Manhã e ao Rádio Clube Português, lhe perguntam qual a sua reacção às sondagens que desfazem o empate técnico entre PS e PSD, para fugir à pergunta, ou melhor, para fugir a uma resposta difícil de assumir, MFL coloca-se na pele de directora dum centro/empresa de sondagens.

Quem lhe responde é o Prof. Pedro Magalhães (aqui)!
... Não sei é se a Sra, no alto do seu pedestal, será suficientemente humilde para aceitar a explicação de quem sabe!!

Eu sei que a Sra MFL sabe que eu sei que a Sra MFL disto, não percebe nada!

18/09/2009

Campanhas... negras!

Apesar de ter decidido que não iria fazer qualquer comentário sobre a campanha eleitoral para as eleições do dia 27 de Setembro, entendi que, pela forma como a campanha está a ser conduzida, nomeadamente os temas que se discutem, iría abrir uma excepção.
Estava eu, por isso, a fazer um pequeno texto sobre a "campanha negra" que está a ser feita, em que os partidos puxam os temas demagógicos à discussão, fugindo assim aos temas principais e que deveriam ocupar o espaço central (acabando por "apanhar" os mais distraídos), quando li o texto do Prof. João Cardoso Rosas no jornal i esta quinta-feira (17/09/2009): «"Os espanhois" e outras histórias florentinas».

O retrato fiel do que se temos assistido neste período eleitoral.

«Pense-se na "asfixia democrática" do continente e em como ela deixou de existir na Madeira, só porque aí é praticada pelo PSD. Pense-se nos apelos à ética, subitamente suspensos quando se tratou de favorecer um amigo político, o famoso "homem da mala". Pense-se no modo como a líder do PSD tratou a sua oposição interna: à boa moda florentina, eliminando todos aqueles que lhe pudessem fazer sombra, sem qualquer remorso nem respeito.
Parece estranho mas, diante de Ferreira Leite, Sócrates, o político profissional, começa a surgir como um homem excessivamente bem-intencionado, ou até um pouco ingénuo. Anda por aí a apresentar, com insistência, a obra feita e o programa para a próxima legislatura. Ferreira Leite, por seu turno, parece estar a levar demasiado à letra os ensinamentos de Maquiavel.»

É um facto: «A campanha abandonou agora a respeitabilidade dos debates e passou à fase mais suja.»

O texto de opinião, e que recomendo vivamente, pode ser lido aqui.

Ainda falando de campanhas negras, no caso das "escutas" em Belém, a história está a tomar proporções ridículas.
Lembremo-nos que tudo começou num jornal que já há muito tempo, na minha opinião, perdeu o estatuto de "jornal de referência".
O jornal PÚBLICO tornou-se num verdadeiro pasquim!

Quando, finalmente, se esperava que o Sr. Presidente viesse, de uma vez por todas, encerrar o assunto (já o devia ter feito no momento em que a história começou), este falou... para dizer que não ia falar!
Até depois das eleições vamos ficar com este tema em suspenso e passível de ser usado como arma de arremesso. Lamentável!

Tenho muita dificuldade em acreditar em teorias da conspiração, mas tendo estudado um pouco as áreas de marketing e comunicação política, pessoalmente, não ficaria nada surpreendido se se confirmasse que a "notícia" tivesse sido de facto encomendada.

Aproveito a deixa para recomendar um livro: "Nos Bastidores do Jogo Político - O poder dos acessores" de Vitor Gonçalves editado pela Livraria Minerva.


15/09/2009

Debates - ... e acaba aos 10!

Sócrates vs Louçã
- A convergência inicial sobre a IVG não serviu para amornar o tom do debate que viria a seguir. Menos combativo do que esperava, trouxe algumas novidades. Uma discussão onde Francisco Louçã enumera situações pontuais como reflexo do país e onde Sócrates responde com indicadores que nada dizem ao primeiro.
O tom dos intervenientes elevou-se mas o momento que fez gelar Louçã foi quando Sócrates pegou nas nacionalizações e no fim dos incentivos fiscais na área da saúde, educação e PPR’s propostos pelo BE no seu programa eleitoral.
A resposta foi um tanto ou quanto atrapalhada, talvez resultado da surpresa que este ataque terá provocado. Parece-me que Louçã estaria preparado para “jogar ao ataque” contando que Sócrates permanecesse na defesa.
O Secretário-geral do PS, com algum sucesso, conseguiu encostar o líder do BE à esquerda mais radical e com isso, não sendo um debate brilhante, deixou curiosas algumas pessoas relativamente às políticas defendidas pelo BE.

Ferreira Leite vs Jerónimo
- Jerónimo de Sousa manteve durante todo o debate uma atitude de ataque relativamente ao PSD. Naturalmente que isso aconteceu porque o eleitorado do PCP está à esquerda e não junto do PSD não correndo, por isso, o risco de perder votantes. Ainda assim parece-me que o objectivo de cativar os indecisos ou ir conquistar alguns votos ao PS não terá sido atingido.
Talvez tentando seguir a linha de José Sócrates no confronto com Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa tentou atacar o programa do PSD com a alusão ao facto da parte respeitante à justiça ter sido “copiada” dum relatório do Compromisso Portugal que, como se sabe, junta uma série de empresários portugueses, logo um sector da sociedade ao qual o PCP dedica algum do seu tempo a atacar.
Manuela Ferreira Leite voltou a “tropeçar” (como diz Pacheco Pereira) na «asfixia democrática» que lançou para a discussão pública com a reafirmação da sua existência no continente e negando-a no arquipélago da Madeira. Aqui, o seu embaraço fê-la fugir ao centro da questão colocada pela moderadora do debate.
Parece-me que deste confronto houve muito pouco a retirar, ambos os candidatos entraram como saíram, e onde destaco apenas mais dois pormenores. A confusão da antiga Ministra das Finanças entre IRC e IRS atribuindo ao primeiro imposto a taxa mais alta de 42% quando na verdade é de 25%. O segundo aspecto diz respeito à declaração de que «o PSD foi durante10 anos Governo e houve crescimento». É naturalmente uma afirmação tendenciosa pois peca por incompleta. Referindo-se claramente aos governos de Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite falhou na explicação de que a razão desse crescimento se deveu essencialmente à entrada dos subsídios da antiga CEE (hoje UE), maioritariamente aplicados em grandes obras públicas, nomeadamente auto-estradas.

Ferreira Leite vs Portas
- Não tive oportunidade de assistir com a devida atenção este debate. Ainda vou tentar ver…

Portas vs Louçã
- Não tive oportunidade de assistir com a devida atenção este debate. Ainda vou tentar ver…

Sócrates vs Ferreira Leite
- Este debate seria a cereja sobre o bolo e sobre o qual se criaram grandes expectativas que acabaram por não ser correspondidas.
Esperava menos de Manuela Ferreira Leite e mais de José Sócrates. Mas a estratégia do líder do PS em deixar o papel de “zangado” para Ferreira Leite foi bem conseguida.
O debate não serviu para consolidar ou arrancar votos ao eleitorado do PSD ou PS. Terá porventura servido para despertar alguns indecisos mas não mais do que isso.
Incomodada com a questão de ter integrado nas suas listas candidatos acusados de corrupção e com julgamento marcado, MFL puxou o seu curriculum, trabalhos e experiência para se afirmar como uma pessoa credível reafirmando a “Verdade” do PSD e onde esses casos não poderiam ser usados para o contrariar. Mesmo que isso contradiga uma das ideias defendidas por um dos fundadores do partido, Francisco Sá Carneiro, no que respeita à ética e ao facto de que o político dever estar acima de toda e qualquer suspeita.
MFL mostrou-se novamente a “tropeçar” nas respostas e nas contradições, acabando JS por ser mais conciso e objectivo no seu discurso.
Sócrates, tentando contornar os temas mais incomodativos para o seu Governo, tentou centrar a conversa nos temas mais fracturantes e antagónicos como os investimentos públicos e apoios sociais.
Ficaram evidentes as diferenças principais entre os dois partidos e também a falta de respostas a algumas questões, por exemplo, como é que o PSD pretende colmatar os apoios às empresas e apoios sociais quando propõe a diminuição da receita fiscal nomeadamente a descida da Taxa Social Única ou o IRC.
Confrontada com o que é defendido no programa eleitoral, não ficou claro o que o PSD entende por «introdução de medidas destinadas a que a pensão de reforma dos Portugueses passe a ser crescentemente encarada também como uma responsabilidade individual, […] ou o progressivo plafonamento do valor das contribuições e das pensões mais elevadas, sempre com o integral respeito pelo principio da confiança».
Tentando justificar a intenção de não avançar para os grandes investimentos públicos, MFL apresentou um novo argumento. Quer a independência económica de Portugal relativamente a Espanha (não podemos esquecer que estamos inseridos na EU). Afirmou ainda que Espanha lucrará com o TGV em Portugal. Tal como no debate com Jerónimo de Sousa, a “história” ficou a meio pois Portugal também beneficiará, ainda mais do que Espanha, de verbas comunitárias.
Um debate muito centrado no passado, deixando alguns temas do futuro por discutir.

Acredito que esta serie de debates não terá contribuído de forma clara e decisiva para ganhar votos ao eleitorado colocado no sector “Não Sabe/Não Responde”.

A campanha eleitoral está aí e é nesta fase que tudo se decidirá.


12/09/2009

Postas de pescada...

Quando li que o Sr. Medina Carreira no seu livro, que lançará no dia 14/09, «arrasa a classe política e dá as suas soluções para 'endireitar o País'» fiquei admirado. Não pelo facto de lançar (mais um) livro, nem pelo facto deste arrasar a classe política - o costume. A minha admiração deve-se ao facto de dar «as suas soluções para 'endireitar o País'». Isto sim, é novidade numa pessoa que quando lhe perguntam quais as soluções e alternativas para evitar os cenários catastróficos que preconiza responde com um «não sou eu que tenho que encontrar soluções» ou «eu não faço parte do Governo».

Confesso que coloquei na minha lista de compras este livro de Medina Carreira, quebrando assim uma determinação minha em evitar comprar maus livros. Seria este a excepção, apenas pela curiosidade de conhecer estas soluções. Mesmo correndo o risco de encontrar soluções do mesmo tipo que dava enquanto Minístro das Finanças, quando confrontado com o aumento dos combustíveis: «[os portugueses que] andem de burro»!

No entanto li a entrevista deste Sr. à revista Visão. Começa, como todas as outras, com as raízes e origens do entrevistado e as "dificuldades" como atingiu o curriculum e estatuto actual.
Depois de ter terminado de ler a entrevista a este antigo Ministro das Finanças licenciado em Direito fiz um risco na minha lista de compras. Mantenho meu princípio: dinheiro gasto em livros, só mesmo em bons livros.
Concluo que o Sr. Medina Carreira continua igual a si próprio.

Destaco aqui pequenos pormenores reveladores das previsões e soluções que MC nos poderá dar:

«Com 27 anos, como viu a candidatura de Humberto Delgado?
Viu-se que o regime ia descambar. Mas o desmoronamento foi em 1960, 1961. E eu vejo hoje Portugal a desmoronar-se de forma parecida: sem norte, sem chefia esclarecida, sem elasticidade, sem capacidade de adaptação... Sinto hoje um Portugal tão trémulo como nos últimos dez anos do Estado Novo.»

- Qual Zandinga qual quê...


«Como se vê nas suas intervenções, e neste novo livro, continua zangado - e um pessimista inveterado.
Sou um pessimista sob condição. Se continuarmos com estas instituições a funcionar tal como estão, os dirigentes políticos que para aí andam e mais o seus acólitos, que vivem da política, eu sou um imenso pessimista.»


«Os políticos profissionais também estão no poder noutros países da União, que estão melhor que nós...
Sim, é essa a diferença. Nós somos mais pobres e estamos a ficar ainda mais pobres, em relação à Europa.»

- Qual é, afinal, a diferença...?


«Mas o senhor já fazia previsões catastróficas há dez ou 15 anos. Nesta altura Portugal já não devia existir. O que correu menos mal?Catastróficas, não! O que eu digo - e se calhar, essa mensagem não passa - não é para "amanhã". A sociedade portuguesa está viciada em falar "ontem" para "amanhã". Ora, a direcção que o nosso País leva não se mede entre dois centímetros, mas em dois metros. E se vir como estávamos em 2000 e como estaremos em 2010, verá. A longo prazo, anda não errei nada! Em 1995 escrevi um livro sobre políticas sociais. E disse que era absolutamente necessária uma reforma da Segurança Social antes do séc XXI. Ela só se fez agora, em 2006... Este ministro fazia parte da equipa que engonhou aquilo tudo. Disseram ao Guterres que isto estava garantido até ao fim do séc. XXI! Quem percebe isto dez anos depois, não deve ser ministro!»

«Mas olhe que os economistas falham muito nas suas previsões. Viu-se na crise e está a ver-se nas previsões sobre a retoma...
O problema é diferente. Temos de olhar para os gráficos. Para a evolução da nossa Economia. A tendência de estagnação e empobrecimento. É perante esta tendência que eu digo "cuidado". Porque, ao mesmo tempo que temos uma economia menos produtiva, temos um estado que exige cada vez mais meios para sustentar os seus compromissos sociais! E a despesa social está a crescer três vezes mais do que a Economia!»

- Os economistas falham... mas MC não falha porque é formado em Direito... será essa a razão?


«Mas a deslocalização do investimento não afecta só Portugal. Também afecta os nossos parceiros, onde há mais protecção aos trabalhadores.
Os governos têm de dizer: 'Meus senhores, ou querem os empregos e passam a ganhar menos, ou querem mais dinheiro e não há tantos empregos'. As pessoas podem optar - e a democracia é isto. O País pode dizer: ' Ah, então antes queremos ser pobrezinhos, enrascados, passar o tempo na praia a apanhar sol' e tal. Pronto, então tudo bem. Ou então as pessoas querem viver melhor - e a malta quer viver melhor, coitada! E com toda a legitimidade.»

- ... revelador!


«Mas, no seu tempo, a Educação tinha melhor qualidade? Com meio país analfabeto? E se tinha, como chegámos à situação actual?
Lá está você a confundir! Para as pessoas aprenderem não era preciso estarem lá todos! O abandono escolar, quando é feito por aqueles que não andam lá a aprender nada, é uma coisa boa! Nem gastam dinheiro à gente nem chateiam os outros! Esta ideia imbecil da escola inclusiva serve para depositar dentro de quatro paredes uns tipos! Para que o eng.° Sócrates e a Maria de Lurdes Rodrigues lhes passem, depois, um papelucho! Um tipo com cabeça devia perguntar, olhando para o papelucho: 'E isto serve para limpar o quê?'

Mas exagera um bocadinho. No seu tempo, em que a escola era tão "boa", havia 30 ou 40% de analfabetos. Hoje não há uma criança que não saiba aceder à internet. Não acha que melhorámos?

Se a criança souber ler, escrever, ler, contar, pensar, expor, tudo bem. O Magalhães vai morrer por si próprio. As crianças escangalham aquilo tudo rapidamente ou vendem-no na Feira da Ladra...
»

- O nível da entrevista pode mesmo deixar a dúvida, não relativamente à qualidade escolar daquele tempo mas sim à qualidade dos alunos... melhor, do aluno!



E o chorrilho dos habituais disparates de Medina Carreira continuam aqui!


Louçã, o menino.

O título não é meu. É de Henrique Cardoso, colunista no jornal Expresso.
Li-o a semana passada na edição impressa mas hoje já posso colocar aqui o link para o lerem online.

Uma crónica interessante de ler. Ficamos a conhecer um pouco as atitudes do líder do BE.

«[...]Louçã concede-me as suas raízes aristocratas, e eu ofereço-lhe as minhas raízes plebeias. Para enorme benefício profissional, eu ascenderia à aristocracia da esquerda caviar. Para enorme benefício psicológico, Louçã adquiriria origens proletárias. Uma troca justa.»

Vale a pena ler.

10/09/2009

Olha para o que digo e não para o que faço...

Os acontecimentos dos últimos dias são inacreditáveis e, diria até, inadmissíveis quando são protagonizados por políticos profissionais com aspirações a chefiarem o Governo de Portugal.

Antes de ir à asfixia e à Madeira, não posso manifestar a minha total estupefacção com as declarações do Sr. Louçã relativamente à adjudicação de obras com preços inflacionados por parte do actual Governo.

Estas declarações, ainda que ostentadas como bandeira de campanha do BE uns dias antes, tiveram um maior impacto no debate de dia 8 de Setembro.
Nesse mesmo dia quando esse argumento foi contrariado ainda teve a coragem de ironizar dizendo que já se sabia como é o caso ia acabar.

Já tive oportunidade de o dizer aqui: não gosto que tentem fazer de mim parvo!
Por isso, é importante que o Sr. Louçã, um político profissional, seja honesto naquilo que diz. E lembro que já no dia 20 de Agosto, cerca de 3 semanas antes do debate, o Jornal de Notícias dava conhecimento de que já tinham sido comunicadas «recomendações de não adjudicação devido ao aumento do Valor Actualizado Líquido (VAL) do esforço financeiro da EP da primeira para a segunda fase do concurso.»


Demagogia radical à parte, fico muito apreensivo e receoso quando ouvi chamar "bom Governo" ao que é praticado pelo Sr. Jardim. Medo...
Mas temos que ser justos e fazer aqui uma correcção: a Sra. não disse que o que faz o Sr. Jardim é um «exemplo de um bom Governo». Na verdade, o que disse foi que o que ali existe é um «exemplo de um bom Governo PSD». E, verdade seja dita, tem toda a razão!
Quando desta forma tão clara se explica o que se entende por um «bom Governo PSD», realmente, para que se precisa dum programa eleitoral?
Acho que ficam cada vez mais claras as opções de escolha para o próximo dia 27 de Setembro.
Não pude deixar de reparar que para a pré-campanha eleitoral dum partido, neste caso do PSD, se usam recursos do Governo Regional da Madeira, nomeadamente viaturas oficiais, pagos com recurso a impostos.
Ora aqui está outro belo exemplo que o PSD dá aos portugueses relativamente ao controlo da despesa pública (já para não falar do período 2003-2005).

Ainda em terras do Sr. que ocupa o cargo de Presidente do Governo Regional da Madeira e que aos jornalistas que não concordam com ele responde «fuck them»*, a Sra. Manuela Leite ousa falar em «asfixia democrática» em Portugal continental e na inexistência dela no arquipélago madeirense.

Achei muito interessante o editorial do Jornal de Negócios do dia 8 de Setembro assinado pelo Director Pedro Santos Guerreiro:
«O critério de Manuela Ferreira Leite para identificar a Madeira como um exemplo do melhor do que o PSD é e quer ser é o mesmo com que Elvis Presley vendia discos há 50 anos: tantas pessoas não podem estar erradas. Ir à Madeira negar a asfixia democrática é como ir à China celebrar o respeito pelos direitos humanos. O banho de multidão é encantório e ainda ontem fez parar o trânsito - e talvez também o cérebro.»

Andei a vasculhar os meus arquivos e encontrei um discurso do qual deixo aqui uma pequena parte:
«A Senhora Dr.ª Manuela Ferreira Leite, a Quem muito prezo e respeito e que tenho pena que não esteja aqui para ouvir isto, faria um grande Serviço ao partido, não se candidatando. Não tem hipóteses de ganhar 2009. Se a Senhor Dr.ª Manuela Ferreira Leite, ou outros de certo modo exóticos, persistem em ir para a frente, representarão, todos, sem excepção meras facções do partido. Com o risco de fazerem o Partido implodir, na sequência das eleições internas. Não tenham ilusões!»
O autor deste discurso foi proferido pelo Sr. Jardim no Conselho Nacional do PSD em Agosto de 2008.

* Foi muito o alarido feito com o gesto feito pelo ex-Ministro Manuel Pinho, e que lhe valeu a demissão. Mas onde está a reacção da suposta classe jornalística às palavras injuriosas (mais uma vez) do Sr. Jardim?
Desta vez foi ainda mais directo aos jornalistas: «fuck them».

Umas vezes reagem como "virgens ofendidas" e noutras revelam-se muito distraídos. Ou será este um exemplo da não existência da «asfixia democrática»?



07/09/2009

Debates - Vira aos 5...

A primeira parte dos 10 debates que antecedem as legislastivas de 2009 está concluída. Verdade seja dita que de debate tem muito pouco. É mais um frente a frente do que outra coisa qualquer até porque o modelo escolhido não promove uma verdadeira discussão de ideias e propostas.

Esta é a minha visão dos primeiros 5 "encontros":

Sócrates vs Portas
- Esperava um "debate" forte e agressivo e rico em discussão. Como referi antes, o modelo de debate não deu liberdade a essa discussão e serviu, em algumas das vezes, para os candidatos se refugiarem evocando a necessidade de respeito pelas regras.
Falou-se muito do passado e pouco do futuro. Discussão parca em ideias para o futuro. Muita demagogia na contra-argumentação das iniciativas aplicadas pelo Governo.
Ficou ainda por explicar por que razão uma das bandeiras eleitorais do CDS-PP contra o actual Governo foi aprovada com os votos do partido de Paulo Portas.

Louçã vs Jerónimo
- Confesso que já o apanhei quase a meio, mas fiquei com a impressão que não perdi muito. Alguma convergência nas ideias e com os ataques dirigidos unicamente ao Governo e ao PS com o objectivo claro de chamar assim eleitores do espectro socialista.
Tanto BE como PCP, e na sequência dos programas eleitorais que apresentaram, podem dar-se ao luxo de defender teorias e ideias que agradam ao ouvido do eleitorado pois claramente são partidos, e disso têm noção, que dificilmente se verão na posição de ter que formar um Governo.
De debate, pouco ou nada houve, ainda que a moderadora tenha espicaçado os dois candidatos ao contraditório.
É de facto mais fácil à distância, e para os órgãos de comunicação social, atacar adversários da mesma ala política em vez de o fazer olhos nos olhos.
Julgo que perderam aqui uma excelente oportunidade de clarificar ou acentuar as diferenças entre os dois partidos. Imperou uma estratégia calculista.

Sócrates vs Jerónimo
- Um frente a frente tranquilo e sem grades confrontos. Não interessa a José Sócrates hostilizar os militantes comunistas. Jerónimo de Sousa também optou pela prudência na escolha das palavras, seguramente para não fechar as portas a um possível futuro entendimento (pelo menos parlamentar).
Esta tónica calma e delicada, onde só o código do trabalho serviu para amornar a discussão, deveu-se seguramente à estratégia do líder socialista, logo no início, em estabelecer como alvo dos ataques políticos os partidos da direita.
Notou-se que Jerónimo se encontrava mal preparado para a discussão dos problemas e por isso teve de se socorrer dos chavões comunistas que facilmente ficam no ouvido sem que se saiba muito bem o seu significado. Sócrates, naturalmente, beneficiou com disso.

Ferreira Leite vs Louçã
- Esperava mais de Louçã e menos de Manuela Ferreira Leite. Conciso nas ideias conseguiu com que um dos argumentos de Manuela Ferreira Leite fosse um «é a vida!». Uma vez mais, defendendo medidas mais radicais e só possiveis de defender porque não formará Governo, logo não as poderá nunca aplicar, colocou a sua opositora algumas vezes em situação de fraca contra-argumentação.
Foi uma discussão de ideologias, bem aproveitada pelo candidato do BE.
Um aspecto interessante, e com pouca ressonância na comunicação social do dia seguinte, foi o facto de MFL ter admitido o sucesso da sustentabilidade e viabilidade conseguidas na Segurança Social pelo actual Governo. Ficámos também a saber que o que não consta no programa eleitoral do PSD não será mexido. Ou porque está bem ou porque não é prioritário mexer. Se não se fala, então não se mexe.
Preocupam-me estas omissões e a falta de clarificação de ideias no que concerne a determinadas áreas... fica-se sem saber claramente qual a visão do PSD para determinados sectores da sociedade.

Jerónimo vs Portas
- Este era o debate onde não esperava nada de novo. E assim aconteceu.
Uma vez mais, Jerónimo de Sousa pouco à vontade e naturalmente voltaram a emergir chavões como «aparelho produtivo», «bem de Abril» ou «programa constitucional». Tentou direccionar a atenção o discurso contra o Governo. Foram poucas as vezes em que tentou espicaçar a direita ou o CDS-PP. Muito bem quando lembrou a Paulo Portas que embora não tenha sido Ministro da Saúde ou da Agricultura, teve responsabilidades no anterior Governo e por isso tem que assumir responsabilidades no legado que deixou em 2005.
Já Portas aproveitou bem as fragilidades demonstradas pelo seu opositor. Sentiu-se como peixe na água explorando muito bem o tempo de antena que teve. Seguro, definiu como seu adversário directo José Sócrates e Jaime Silva (Ministro da Agricultura). Sustentou sempre a sua argumentação em exemplos, ainda que por vezes empolados.
Dirigiu-se essencialmente ao eleitorado do "centrão" e, com a apresentação de soluções (poucas) que me parecem algo demagógicas, deverá ter conseguido despertar a atenção em algum eleitorado do grupo dos "Não Sabe/Não Responde". No entanto não me parece suficiente para conseguir obter mais votos para o CDS-PP.
Ficaram patentes a convergência na identificação dos "problemas" e divergência na aplicação das "soluções".


Vamos ver o que nos reservam para os próximos 5 frente a frente.

Quem TVIu e quem TV - II

Curiosamente continuam a não surgir os factos que ligam o PS ou o Governo a decisão empresarial sobre uma grelha de televisão.

No entanto, a entrevista do Sr. Pais do Amaral ao jornal i pode ajudar-nos a compreender a decisão da Media Capital e da Prisa:
«Não entendo como é que só agora é que esta decisão foi tomada. Penso que aquele jornal excedia tudo o que era possível em termos de limites do aceitável e que muita gente estava à espera que isto acontecesse mais cedo do que mais tarde [...] quele jornal não se enquadra naquilo que a Prisa faz, do ponto de vista de informação, séria e credível, e também não se enquadra sequer naquilo que já era hoje em dia o perfil de informação da TVI»

Fica aqui a notícia na íntegra

A propósito deste tema, também o jornal i coloca um inquérito online onde a pergunta é «Quem é que fica a ganhar com o fim do Jornal de Sexta da TVI?».
As opções de resposta são «Ninguém», «TVI», «SIC e RTP», «Manuela Ferreira Leite e o PSD», «Cavaco Silva» (há que tenha escolhido esta opção) e finalmente «José Sócrates e o PS».

É claro que, politicamente, quem ganha com esta situação é claramente «Manuela Ferreira Leite e o PSD» pelo aproveitamento político e demagógico que pode e está a fazer.
No entanto há ainda possibilidade de existirem outras duas respostas. A primeira, considerando o aspecto qualitativo, quem fica a ganhar é a «
TVI» - e disso não tenho quaisquer dúvidas.
A outra resposta possível não nos é dada como opção: «
os portugueses que procuram estar informados». A estes portugueses foi feito o favor de se ter retirado espaço de antena a uma jornalista "que envergonha o jornalismo português" e "que desrespeita todas as regras deontológicas do jornalismo" (as palavras não são minhas, são do Sr. Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto) e haverá agora (assim espero) mais uma opção de jornalismo digno desse nome às sextas-feiras.

Aqueles que discordam desta ideia sobra-lhes uma pequena esperança da Prisa, porque necessita de capital, vender a sua parte da Media Capital à Ongoin e dessa forma haver a hipótese da Sra. Guedes voltar a ter a protecção do Sr. Moniz para poder encher tempo de televisão, em horário nobre diga-se, com o seu programa de "pseudo-jornalismo".

Este cenário é muito provável de se concretizar, pois o outro interessado nessa aquisição é a PT. E se, por acaso, o Governo como detentor duma golden share não se manifestar contra a aquisição da Media Capital pela PT, virão os mesmos demagógicos dizer e apregoar em praça pública que essa seria a segunda parte do plano elaborado para censurar o programa de sexta à noite da TVI.

Neste blog, o tema encerra aqui a não ser que surjam os tais factos que, como disseram os Srs. Aguiar Branco e Portas, implicam os "socialistas" nesta decisão.
Disse.


06/09/2009

Tête-a-tête

As datas da maratona de frente-a-frente dos principais candidatos às legislativas de 27 de Setembro 2009:

02/09/2009 - TVI
Sócrates - Portas

03/09/2009 - SIC
Louçã - Jerónimo

02/09/2009 - RTP1
Sócrates - Jerónimo

06/09/2009 - TVI
Louçã - Ferreira Leite

07/09/2009 - SIC
Portas - Jerónimo

08/09/2009 - RTP1
Sócrates - Louçã

09/09/2009 - TVI
Ferreira Leite - Jerónimo

10/09/2009 - RTP1
Ferreira Leite - Portas

11/09/2009 - RTP1
Portas -Louçã

12/09/2009 - SIC
Sócrates - Ferreira Leite


Uma visão da educação

Não é minha, pois sou ligeiramente mais radical, mas é a do Mestre Luis Miguel Ferreira.
Expressou-a no Diário de Notícias em 3 de Setembro.

Entre vários pontos de vista e factos ali expressos, destaco a passagem sobre os argumentos demagógicos utilizados por alguns partidos:
«[...] muitos tendem a desvalorizar estes resultados, alegando que são "meras manipulações estatísticas" ou que são fruto de algum "facilitismo". Ora, dizer isso é o mesmo que dizer, antes de tudo, que os professores, nas suas escolas, nos seus conselhos de turma, fizeram batota. Dizer isto é, de facto, desvalorizar o trabalho diário desenvolvido pelos professores com os seus alunos, é ignorar o esforço dos que ensinam em melhorar o desempenho e as competências dos que aprendem, é menosprezar o empenho dos docentes na construção de uma escola pública melhor e mais eficaz na qualificação do País. Sugerir que houve facilitismo é pôr em causa o profissionalismo dos professores e só eles sabem o quanto tiveram de trabalhar mesmo numa altura em que várias mudanças iam surgindo na sua própria carreira, com as quais discordaram de forma frontal e generalizada.»

Para uma leitura completa, que recomendo, podem aceder por aqui.


03/09/2009

Quem TVIu e quem TV

Pois bem, se estavam à espera duma campanha eleitoral com discussão séria de ideias, propostas e soluções, então estavam prefeitamente enganados.
Primeiro Freeport, depois Eurojust, a seguir TVI, depois escutas e jipes em Belém, pressões dirigentes partidários (contestadas pelo próprio pressionado) e agora PRISA\TVI novamente.

Ainda não estavam todos os dados conhecidos sobre a demissão em bloco da direcção de informação da TVI e já os partidos da oposição se lançavam que nem abutres sobre o Governo e o PS.
Sobre uma decisão dum grupo internacional privado, como é a Prisa, vieram os Srs. José Aguiar Branco e Paulo Portas apontar o PS como sendo o responsável.
Se tentarmos esquecer os episódios em que estes dois Srs. foram protagonistas principais, o primeiro no caso TVI/Marcelo Rebelo de Sousa e o segundo na forma como retomou o poder dentro do seu partido, até poderiamos considerar estas duas atitudes como legítimas no seguimento duma linha de verdade democrática. Mas não é o caso.
É impressionante a "verdade" que auto-proclamam neste caso pois nem sequer se limitam a levantar suspeitas. Partem imediatamente para a acusação.

Trata-se dum puro aproveitamento político com o claro objectivo de continuar a embrenhar as pessoas naquilo que menos interessa colocando num plano secundário os assuntos que realmente fazem falta ser discutidos em Portugal.
Estes Srs. assumem um lugar de destaque na lista de demagogos do espectro político português. E a demagogia não nos leva a lugar algum.

Vou ficar ansioso pelas provas que estes dois Srs., seguramente, irão apresentar. Se acreditarmos nesta "teoria da conspiração" ainda podemos ter esperança de também ver a Ordem dos Advogados, na pessoa do Sr. Marinho Pinto, na lista de suspeitos dos que influenciaram a direcção duma empresa privada espanhola.

Curiosamente os outros dois partidos com assento parlamentar foram mais moderados e inteligentes no uso das palavras. Ponto positivo.

Não deixa de ser curioso que nos dias que anteciparam esta decisão, a protagonista principal deste programa se tenha desdobrado em entrevistas e nos dias que se seguiram à saída do seu marido da direcção da TVI os orgãos de comunicação social se tenham enchido de interrogações relativamente ao futuro da Sra.

Custa-me um pouco a acreditar que o PS e o Governo tenham tido alguma influência neste caso do cancelamento do programa "Jornal de Sexta", pois a existir essa relação isso seria um verdadeiro "suicídio político".
Afinal esta polémica interessa verdadeiramente a quem? Ao PS?
Não será possivel que os proprietários grupo tenham entendido que esse programa não passava dum ponto negro na estação televisiva?
Não será possivel que aquele programa só existisse naqueles moldes porque aquelas pessoas que o protagonizavam estavam "seguras" apenas pela teimosia de alguém?

O importante, e desejável, é que as pessoas pensem por si mesmas sem que esta onda de demagogia alimentada por alguns "políticos profissionais" e que ocupa o espaço das campanhas eleitorais seja o principal factor de decisão.

Lembro-me duma música da Lena d'Água onde cantava «d
emagogia feita à maneira / é como queijo numa ratoeira»...


01/09/2009

Foi à 70 anos

À 70 anos, a 1 de Setembro de 1939, tinha início a segunda grande guerra.

Todas as guerras influenciam o curso da história, mas esta foi a que mais marcou o mundo.
Até então, nunca a humanidade havia passado por um conflito bélico que tivesse morto um tão grande número de civis como a que durou entre 1939 e 1945.

Um momento na história que deve ser pensado e tido como objecto de estudo para as gerações actuais e futuras.
Há erros que não se devem voltar a cometer.


Aproveitanto a data, recomendo a leitura dum excelente livro do historiador Marc Ferro: "Sete Homens em Guerra, 1918-1945 - História Paralela".
A editora é a Bertrand.

Monopólio dos Heróis


A notícia do dia abalou o mundo... dos super-heróis. A Walt Disney anunciou hoje a aquisição da Marvel Entertainment.

Segundo o seu CEO e presidente, Robert Iger, «This transaction combines Marvel's strong global brand and world-renowned library of characters including Iron Man, Spider-Man, X-Men, Captain America, Fantastic Four and Thor with Disney's creative skills, unparalleled global portfolio of entertainment properties, and a business structure that maximizes the value of creative properties across multiple platforms and territories, [...] We believe that adding Marvel to Disney's unique portfolio of brands provides significant opportunities for long-term growth and value creation».

Dentro em breve, se a aquisição for autorizada pelas autoridades que regulam a concorrência nos EUA, poderemos ver o Homem-Aranha a defender o Tio Patinhas da Maga Patalogica ou ainda o trio Capitão América, Pateta e Mickey em busca do Bafo de Onça.

Agora que me tornei um fã de filmes de animação estou ansioso para ver o resultado desta união. É um facto que a fasquia foi significativamente elevada.

A notícia pode ser encontrada aqui.


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