26/07/2009

in claris non fit interpretatio

Não queria ir de férias sem voltar pela última vez (espero) à questão da proposta de revisão constitucional do PSD/M.

Analisando a proposta verifico que de facto não há referência directa ao comunismo, tal como dizia o deputado Guilherme Silva… mas isso é no texto que se propõe como final para a Constituição, porque na justificação da proposta (descrição da situação fáctica) há referência e esta é clara: «[…] a Democracia não deve tolerar comportamentos e ideologias autoritárias, não apenas de Direita – como é o caso do Fascismo, esta expressamente prevista no texto constitucional – como igualmente de Esquerda – como vem a ser o caso do Comunismo, não previsto no texto constitucional [..]».

Para que se perceba qual o texto constitucional que se pretende alterar:
Nº 4, Art. 46º (Liberdade de associação)
«Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.»

Lembrando que na página 7 desta proposta uma das alterações sugeridas é «a menção, em todo o texto constitucional, às Regiões Autónomas com letra maiúscula, assim melhor se assinalando a sua dignidade institucional» fico apreensivo quando vejo a palavra «Fascismo» escrita com letra maiúscula (na constituição «fascista» é escrita com letra minúscula).

A história diz-nos que os primeiros ideais comunistas são normalmente atribuídos a Platão. O próprio Cristianismo advogou algumas das ideias comunistas. A revolução inglesa no séc. XVII e a Revolução Francesa no séc. XVIII tiveram a sua base no ideal comunista. Marx elaborou a sua teoria comunista. Lenine adaptou-a à sua visão. Estaline deu-lhe um toque pessoal.
Hoje, Cuba, Coreia do Norte, China, Venezuela, Bolívia (os mais conhecidos) são regimes auto-denominados Comunistas.

Na verdade, o Comunismo não é mais do que uma utopia e ninguém melhor que Thomas More na sua obra “Utopia” de 1516 para nos a explicar.
Ao contrário do que muita gente pensa, a utopia comunista não nasceu com a obra de Marx e Engels, o “Manifesto do Partido Comunista”.
Facilmente confundimos comunismo com leninismo, estalinismo ou mesmo trotskismo (talvez por desconhecimento claro dos conceitos e dos seus impulsionadores), o que não poderia ser mais errado.
Pelo facto de, escudando-se numa ideologia e alterando a sua essência, se cometerem crimes atrozes ou se implementarem sistemas de governo ditatoriais, totalitários ou autoritários não podemos apelidar essa ideologia, neste caso a comunista, de totalitarismo ou autoritarismo.
Da mesma forma que, baseando-se em alguns valores da direita, não podemos generalizar os defensores de ideologias de “Direita” de fascistas, nazis, salazaristas ou “pinochistas”.

Um segundo aspecto importante, e que não se pode esquecer, é que cada Constituição tem um contexto. A nossa não é excepção e surge num momento em que o salazarismo (exclusivamente português) estava muito presente na nossa sociedade. Não podemos por isso estranhar a referência às «associações armadas» e «ideologia fascista» alusão implícita ao fascismo (ideologia exclusiva italiana) e às «organizações racistas» que, também implicitamente, se referem ao nazismo (exclusivamente alemão).

Assim, compreenderia se a verdadeira intenção desta proposta de alteração fosse a de substituir a alusão a duas ideologias implícitas, nazismo e fascismo (esta última facilmente confundida com salazarismo), e tornar esta proibição constitucional mais abrangente. Não concordo é com a explicação de que a alteração tenciona a proibição de «comportamentos e ideologias autoritárias e totalitárias […] igualmente de Esquerda – como vem a ser o caso do Comunismo».
Parece-me que a justificação apresentada pelo PSD/M é de todo despropositada e sem qualquer sentido.

Não sendo um entendido em Direito, aprendi que na interpretação da lei não pode ser aplicado o lema “in claris non fit interpretatio”, ou seja, “se a lei é clara não há que interpreta-la”.
A lei deve ter uma interpretação mais profunda. Para isso deverá ter-se em conta a lei escrita e a intenção do legislador ou “espírito da lei”… e esta última, no caso específico, não poderia ser mais clara.

Nos sucessivos “esclarecimentos” na comunicação social é ainda dito que as alterações propostas apresentam alguns reforços democráticos.
Fico com dúvidas.

Primeiro propõem-se diminuir «as competências implícitas que o Tribunal Constitucional tem atribuído ao Estado no campo das matérias reservadas aos órgãos de soberania e, simetricamente, não as reconhecendo às Regiões Autónomas». Por outras palavras “aqui queremos mandar nós e o Tribunal Constitucional não deixa”. Isso ficou mais claro na Assembleia Regional da Madeira quando da apresentação deste documento AJJ acusou o TC de ser uma fonte de conflitos para região autónoma da Madeira sugerindo mesmo que poderia deixar de existir passando as suas competências para os juízes de carreira. De facto uma visão mais democrática não poderia ser emanada da boca e pensamento de Alberto João Jardim.
Além disso, o Estado deveria deixar de ser visto como um “Estado unitário” devendo passar a constar a designação “Estrutura de Estado”.

Depois pedem a extinção do Representante da República que, muito educadamente, o PSD/M apelida de «”vigilante especial” da ortodoxia constitucional do Estado!». Naturalmente que o poder que este cargo pressupõe passaria para a figura de um «“Presidente da Região Autónoma”, que cumula a posição de Chefe do Governo Regional». Isto, claro está, porque «a possibilidade de ser o próprio Chefe do Governo Regional a livremente nomear e exonerar os membros do seu Governo torna mais eficiente a tomada de opções políticas regionais na escolha das pessoas no contexto de um órgão de cunho executivo». Em minha opinião, outra noção clara da visão democrática destes senhores.

Podemos encontrar outros «reforços democráticos» neste documento. Mas nenhum deles com o requinte da «eliminação das organizações de moradores, excrescência revolucionária que a CRP tem teimado em manter e sem qualquer adesão à realidade social, assim se revogando os arts. 163º, 264º 3 265º da CRP.»

Transcrevo aqui a dita «excrescência revolucionária»:
«Artigo 263º
1- A fim de intensificar a participação das populações na vida administrativa local podem ser constituídas organizações de moradores residentes em área inferior à da respectiva freguesia.
2- A assembleia de freguesia, por sua iniciativa ou a requerimento de comissões de moradores ou de um número significativo de moradores, demarcará as áreas territoriais das organizações referidas no número anterior, solucionando os eventuais conflitos daí resultantes.»
O Artigo 264º define a “Estrutura” desta organizações e o 265º estabelece os “Direitos e competências”.
Pois à «excrescência revolucionária» é-lhe dado o direito «de petição perante as autarquias locais, relativamente a assuntos administrativos de interesse dos moradores».

Parece-me que urge fazer uma revisão constitucional e alterar o celebre Artigo que proíbe a ideologia fascista e torna-lo realmente abrangente a fim de evitar possíveis ideologias jardinistas.

De facto, parece-me que se trata de uma grande bota que a líder do PSD vai ter que descalçar… ou não!

Estarei de regresso em breve.


23/07/2009

Acessibilidades

É de salutar o consenso que a introdução de boletins de voto em Braille gerou na Assembleia da República em 22/07.
Aproveitando uma petição que reuniu mais de 4.200 assinaturas, o grupo parlamentar do PS "transformou-a" (e bem) numa recomendação ao Governo que acabou votada por unanimidade.

Há agora que encontrar as soluções para a implementação deste (pequeno) passo no sentido da igualdade e integração que, acredito, não serão fáceis.
Cabe aos deputados, por nós eleitos, essa tarefa.

Ainda assim, há sempre quem tenha algo menos construtivo a acrescentar como o caso de alguns deputados do BE e do CDS-PP reclamando esta medida como tardia e considerando o partido da maioria o único responsável por isso.
É um facto que já poderia ter havido iniciativa há mais tempo, mas não podem agora estes Srs. deputados vir tentar «tapar o sol com a peneira».
Afinal, não só para os deputados do PS que estão na AR há mais de 4 anos.

Dá mesmo para perguntar, se os deputados do PS se atrasaram então que andou a fazer a oposição?!...


22/07/2009

Educação na Política

Já aqui mencionei autores de referência capazes de nos ajudar a entender um pouco a "classe política".

Pegando na teoria de Gaetano Mosca, e tendo presente que num estádio primitivo das sociedades esta classe era composta essencialmente por militares cujos feitos em conflitos se destacavam, entende-se que paralelamente à evolução das sociedades a "classe política" se tenha tornado mais exigente quanto à sua constituição (não me refiro àquela que AJJ quer alterar mas sim à composição dos seus membros).
Sendo as sociedades compostas por dois grupos, os Governantes e os Governados, defende este autor a questão hereditária como um factor importante na ascenção do cidadão ao primeiro grupo, naturalmente mais restrito que o segundo.
Não é meu propósito decompor em pontos com os devidos esclarecimentos a tese de Mosca, nomeadamente no que entende por factores hereditários mas, e duma forma geral, podemos entender como sendo o ambiente (por exemplo familiar ou social) a que esse cidadão está sujeito e as condições que pode ter, com mais ou menos facilidade, de adquirir meios que permitam essa evolução.
Em suma, o cidadão que pertença a uma "casta" hereditária ou possuindo notoriedade, conhecimentos e cultura poderá aspirar a uma ascenção do grupo dos Governados para o dos Governantes.

E é aqui que começa a minha interrogação. Se a notoriedade, conhecimento, cultura, hereditariedade, graus elevados nas hierarquias militares e administrativas aumentam a probabilidade de aspirar a um lugar na "classe políticia", Governantes, então onde encaixa a educação, moral e o respeito pelas pessoas e instituições?

Entre muitas, as frases mais comuns entre nós, Lusitanos num país à beira mar pasmado, são: «os políticos querem é tacho», «os políticos querem é poleiro» ou mesmo «os políticos sabem é governar-se».
Não estará mais do que na altura da nossa "classe política" profissional parar para pôr a mão na consciência e ser muito mais exigente na selecção e defesa dos seus membros?
Já Max Weber dizia que existiam duas formas de estar na política: ou se vive para a política ou se vive da política.
Infelizmente, não vejo na "classe política" profissional, da esquerda à direita sendo raras as excepções, uma intenção verdadeira nem de se dignificar nem de esclarecer as pessoas e responder aos seus anseios e com isso contrariar a ideia generalizada de que «os políticos são todos iguais».

Este ano de 2009, a entrar ainda no segundo semestre, já presenciámos algumas situações caricatas que em nada dignificam o grupo dos Governantes e criam condições para que as pessoas continuem a apregoar frases depreciativas, fazendo com isso aumentar o descrédito na política e nas instituições.

Olhemos para Março de 2009 em que um deputado e vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, na "casa da Democracia", proferiu palavras obscenas para um seu colega de profissão. Consequências nenhumas, pois o deputado José Eduardo Martins continua em funções na AR. Seguramente que em algumas empresas este "funcionário" seria alvo dum processo disciplinar.

Veja-se a resposta dum Ministro do Governo PS quando confrontado com uma afirmação (ainda que falsa, e veja-se a
notícia do Jornal Expresso e ainda a publicada em 11/07/2009, pág. 10) dum deputado da bancada do PCP, também na Assembleia da República. Este acabou por, oficialmente (!?), pedir a demissão do Governo.

E esta semana, é o cidadão que ocupa o lugar de Presidente do Governo Regional da Madeira, eleito democraticamente, que chama «choné» a um deputado europeu e reputado Professor de Direito. Todos temos noção plena que consequências não existirão pois com esta "personagem" a situação não foi a primeira nem será certamente a última.

Reconhecendo em todos eles a condição de ser humano (e quem de nós um dia já não teve uma atitude irreflectida?) ainda assim pergunto: Quando a própria classe se desrespeita constantemente, estará porventura à espera de ser seriamente respeitada pelo povo?


Hesito...

20/07/2009

Há 40 anos

Foi há 40 anos que Neil Armstrong e Edwin "Buzz"Aldrin pisaram o solo lunar sob o olhar do 3º astronauta, Micheal Collins, a bordo do Columbia.

O nº 5 da Visão História é inteiramente dedicado ao acontecimento que em 1969 mudou o mundo.

Vivia-se em plena "Guerra Fria". Duas potências disputavam entre si a hegemonia mundial. Milhões de dólares eram investidos em programas espaciais tanto nos E.U.A. como na U.R.S.S..
As primeiras "batalhas" haviam sido ganhas pelos soviéticos com o programa Sputnik e o primeiro homem a viajar no espaço, o astronauta Yuri Gagarin.
Em resposta, os norte-americanos seriam os primeiros a pisar a Lua e todo o mundo parava para assistir.

Feito extraordinário disseram uns, embuste disseram outros... Quer se acredite ou não, a partir de 20 de Julho de 1969 o mundo nunca mais foi o mesmo.

Uma excelente "Edição comemorativa".

Outra acção comemorativa deste acontecimento foi-nos proporcionada pelo sapo.pt que ao longo destes dias nos foi presenteando com as capas de vários jornais dos dias que antecederam a descida dos astronautas em 1969.


Bujardas

Confesso que muitas das vezes estou em desacordo com o que diz o actual Bastonário da Ordem dos Advogados, ou melhor dizendo, com o cidadão Marinho Pinto.
Não pelo (tão contestado) estilo, onde lhe reconheço sinceridade, mas no conteúdo de algumas das suas batalhas.

Não deixo, no entanto, de recomendar uma leitura à entrevista que esta semana dá à revista ÚNICA do Jornal Expresso.

Desde o caso Moura Guedes, até ao comportamento dos políticos na AR, passando pelo caso Freeport, críticas ao Governo, ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e ao estado da Justiça em Portugal não podemos de deixar de ver neste «dixit» algumas das críticas do mais comum dos cidadãos.


18/07/2009

A tese do coelho

Era um dia lindo e ensolarado. O coelho saiu da sua toca com o notebook e pôs-se a trabalhar, bem concentrado.
Pouco depois passou por ali a raposa, e, viu aquele suculento coelhinho tão distraído, que chegou a salivar. No entanto, ficou intrigada com a actividade do coelho e aproximou-se, curiosa:

- Coelhinho, o que estás a fazer aí, tão concentrado?

- Estou a redigir a minha tese de doutoramento – disse o coelho, sem tirar os olhos do trabalho.

- Hummmm… e qual é o tema da tua tese?

- Ah, é uma teoria para provar que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais das raposas.

A raposa ficou indignada:

-Ora!!! Isso é ridículo!!! Nós é que somos os predadores dos coelhos!

- Absolutamente! Vem comigo à minha toca que eu mostro a minha prova experimental.

O coelho e a raposa entram na toca.
Poucos instantes depois ouvem-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio...
Em seguida, o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos da sua tese, como se nada tivesse acontecido.

Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho, tão distraído, agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho a trabalhar naquela concentração toda.
O lobo resolve então saber do que se trata, antes de devorar o coelhinho:

- Olá, jovem coelhinho! O que o fazes trabalhar tão arduamente?

- A minha tese de doutoramento, Sr. Lobo. É uma teoria que venho a desenvolver há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusivé dos lobos.

O lobo não se conteve e farfalha de risos com a petulância do coelho.

- Ah, ah, ah, ah!!! Coelhinho! Apetitoso coelhinho! Isso é um despropósito; nós os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa…

- Desculpe-me, mas se quiser eu posso apresentar a minha prova experimental. Gostaria de me acompanhar à minha toca?

O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte. Ambos desaparecem toca adentro.
Alguns instantes depois ouve-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e… silêncio.
Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redacção da sua tese, como se nada tivesse acontecido.

Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensanguentados e peles de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia
foram lobos.
Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme leão, satisfeito, bem alimentado, a palitar os dentes.


Moral da história:

1. Não importa quão absurdo é o tema da sua tese;
2. Não importa se não tem o mínimo fundamento científico;
3. Não importa se as suas experiências nunca cheguem a provar sua teoria;
4. Não importa nem mesmo se suas ideias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos.
5. O que importa é: QUEM É O SEU PADRINHO...

Walter Cronkite


Morreu hoje um grande ícone do jornalismo mundial. Norte-americano nascido em 1916, Walter Cronkite, tornou-se o homem em quem mais os americanos confiavam.

De certeza uma referência para a "classe jornalística".


Leia este artigo.
Veja no YouTube alguns vídeos que o celebrizaram.


17/07/2009

Falar bem ou não falar bem

Esta será seguramente a candidata a "frase do ano" com mais hipóteses de chegar destacada ao 1º lugar: «Manuela Ferreira Leite tem direito a uma interpretação especial».

Esta frase foi proferida ontem por Pacheco Pereira no programa Quadratura do Círculo na Sic Notícias quando se abordavam o «rasgar» (primeiro) e o concordar (depois) das medidas sociais do actual Governo por parte do PSD.

Mais uma vez, Pacheco Pereira, vem defender que as palavras de MFL não podem ser interpretadas da forma como ela as profere porque a Sra. «nem fala bem, nem fala tão bem como o primeiro-ministro e como outras e como outras pessoas, como o Eng. Guterres, não fala tão bem. Não fala, enreda-se, tropeça...».

Não sei se com isto Pacheco Pereira pretendia destacar positivamente ou negativamente os discursos e mensagens da líder do seu partido.

Hesito...

Ainda as queimadas da Madeira

Esta manhã, como em todas as outras, a caminho do trabalho acompanhava-me o Rádio Clube Português e o programa minuto a minuto (para mim o melhor programa matinal!!).
Entre as várias rúbricas de grande interesse, prestei alguma atenção à Entrevista do dia, hoje com o deputado do PSD/M na AR, Guilherme Silva.

Tinha alguma curiosidade em ouvir alguém do PSD falar sobre a referida proposta de alteração constitucional.

Ouvi a entrevista e registei algumas frases como «não há nada que proíba partidos comunistas», «não há nenhuma referência ao comunismo articulado» ou que esta proposta «não tem nenhuma referência ao comunismo». E ainda que esta proposta estabelecia alguns «reforços democráticos».
Até aqui nada de novo. Tudo em consonância com o que o líder do PSD/M, AJJ, havia "esclarecido" aos jornalistas para quem nas ideologias totalitárias «cabem os fascismos de direita e os fascismos de esquerda».
Nova evidência da utilização de conceitos completamente retirados do contexto: desconhecimento ou propósito?

A surpresa veio mais tarde, quando procurava a proposta de lei para a poder ler e retirar as minhas próprias conclusões. Encontrei a indicação de que no dia 22 o Diário de Notícias publicará o texto na íntegra.
No entanto deixa uma nota introdutória, aparentemente, extraída do documento. Novo travão na tão aclamada recuperação da imagem da classe política.

Ao que parece o Ponto VII, Outras Alterações, é onde se propõe o «esclarecimento de que a Democracia não deve tolerar comportamentos e ideologias autoritárias e totalitárias, não apenas de Direita, como é o caso do Fascismo como vem a ser o caso do Comunismo»

Afinal há ou não há «referência ao comunismo» nesta proposta?



16/07/2009

Queimadas da Madeira

Alberto João Jardim já há muito que deixou de me surpreender. Hoje fez vender mais umas páginas de jornais e ocupou mais uns largos minutos nas emissões notíciosas de rádio e televisão.
Não conheço na totalidade a proposta de lei do PSD/M para uma alteração à Constituição da República Portuguesa.
Mas do pouco que li trata-se de mais uma acha para a fogueira, isto é, mais um reacender do "discurso da autonomia" - afinal, AJJ só tem a ganhar com o inflamar das relações entre o continente e o arquipélago da Madeira.

A proibição do comunismo na Constituição foi a parte que mais levantou poeira na comunicação social. Esta proibição que mereceu todo o destaque da imprensa acabou ofuscar propostas de alteração bem mais perigosas para a democracia como, por exemplo, a eliminação da figura do "representante da República" (que responde única e exclusivamente ao Presidente da República) e a criação duma nova figura semelhante a um Presidente da região autónoma com poder alargado e que seria simultaneamente o Presidente do Governo Regional.

Sob as ideias de Democracia e Liberdade (outros conceitos que mais lá para a frente poderei abordar em pormenor) tenta-se implementar um Sistema de Governo com contornos duvidosos. Para AJJ «a Constituição não deve ter proibições, entre as quais as de ideologias».
Pergunta: Quere-se realmente "fechar a porta" ao comunismo ou "abrir-se a porta" às ideologias proibidas constitucionalmente?
É uma resposta difícil (ou não) e a quem caberá dar a primeira resposta é a líder do PSD, Manuela Ferreira Leite.

É importante não confundir o conceito "comunismo" com estalinismo, trotskismo ou com os sistemas de governo auto-denominados comunistas como o da Coreia do Norte (e outros).

Vou tentar encontrar a proposta lei. Deixarei para mais tarde uma opinião aprofundada.

No entanto há uma certeza: AJJ cumpre as promessas que faz.
Recordo-me que há cerca de um ano atrás (Junho/2008) o Diário de Notícias publicava uma notícia em que AJJ dizia que seria melhor esperar por 2009 «para convidar quem for candidato a primeiro ministro pelo PSD».
Depois de falhar a mítica festa/comício do Chão da Lagoa de 2008, está já confirmada a presença na festa de 2009.
Recordo-me também que há menos tempo a líder do PSD exigia contenção nas festas e por inerência o despesismo, evocando questões morais pelo período que que vivemos.

Hesito...

Conceitos I

Dois assuntos estão na ordem do dia: "Esquerda/Direita" e "Sistema Eleitoral".
Faço questão de um dia ainda me dedicar com alguma profundidade a ambos e deixar aqui alguns conceitos e ideias devidamente fundamentados.
Requer alguma dedicação e não quero correr o risco de me colocar na mesma situação daqueles que, mesmo desconhecendo os conceitos e as origens, ousam emitir opiniões ou ideias feitas.

Não queria deixar chamar a atenção para o excelente artigo de opinião (mais um) de João Cardoso Rosas (Professor na Universidade do Minho) publicado hoje o jornal i.
Uma simples e muito clara explicação sobre o posicionamento do Liberalismo no espectro político.

Uma leitura atenta deste artigo permitirá, seguramente, um melhor entendimento de alguns dos discursos proferidos por líderes partidários que diariamente invadem a comunicação social.

Estados

Afinal, nem todos os estudos colocam Portugal em posições à retaguarda.
Nem tudo são más notícias.

A notícia pode ser consultada aqui.

Uma opinião

«Eu não quero dar conselhos a ninguém, mas... vou só dar uma opinião. Nesta altura, acho eu, fazer coligações, é uma prova de fraqueza.»
A frase não é minha. É de Pedro Santana Lopes no programa de "Grande Entrevista" referindo-se às coligações anunciadas por outro candidato à Câmara Municipal de Lisboa, António Costa (e que hoje anunciou ainda um outro acordo).

Curiosamente estas declarações foram proferidas no dia 14 de Julho, exactamente um dia antes da
assinatura do acordo, já anunciado em 1 de Julho (reconheça-se essa justiça), entre PSD e CDS-PP, e dois dias depois do acordo que apelida de «prova de fraqueza».
Uma cronologia interessante...

Outra notícia curiosa é a forma como foi viabilizado um plano de urbanização numa zona da cidade de Lisboa. Parece que a força política com a maioria na Assembleia Municipal, PSD, absteve-se «por engano» numa matéria que pretendia rejeitar.
Há mérito no reconhecimento da "asneira" mas pode-se perguntar: afinal o que andam estes senhores a fazer nos orgãos de decisão?

Frequentemente se coloca a questão da credibilidade da classe política. E entrando neste tema recomendo o aprofundamento feito por autores como Max Weber, Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca e Wright Mills. Surpreendentemente, ou talvez não, apresentaram teorias sobre classes e elítes que mantêm uma actualidade impressionante.
A necessidade de recuperar essa credibilidade é urgente. As pessoas necessitam de voltar a acreditar nessa classe.
Mas só poderão voltar a acreditar nos políticos "profissionais" se para isso eles contribuírem seriamente.

Como constatou François-Henri de Virieu na sua obra "La Mediacratie", «a argumentação cedendo o lugar à sedução, a vida política actual parece mais favorável aos profissionais da comunicação do que aos profissionais da convicção»... isto em 1990.

15/07/2009

Tudo na Vida é Política

O mundo da Internet já não me é estranho há alguns anos mas é aqui que inicio uma nova vertente. A de "blogger". Sei que é uma actividade que requer algum tempo da minha parte. Vamos ver.

Não posso dizer que tenha começado bem.
Quando finalmente me decidi a arrancar com este "passatempo" cometi um erro estratégico... não elaborei um "plano B".
Esbarrei com um blog que já tinha o mesmo nome que pretendia dar a este e para o qual tinha uma nota introdutória plena de sentido. Lá se foi a minha singela "homenagem" a George Orwell e à sua obra "Animal Farm", mal transformada em "O Triunfo dos Porcos".


Assim, e sem o dito "plano B", lembrei-me que, afinal, tudo na vida é política!
Podemos lembrar-nos dos teóricos, como por exemplo Julien Freund no seu "O que é a política?", e definir a política como sendo «a actividade social que tem como objectivo garantir, pela força, geralmente apoiada no direito, a segurança exterior e a concórdia interna de uma unidade política particular, salvaguardando a ordem no meio de lutas que têm origem na diversidade e divergência das opiniões e interesses». E não poderemos nós transpor esta definição para as nossas relações sociais, laborais ou mesmo familiares?
Quantos de nós já não fomos confrontados no nosso dia a dia, e esquecendo a "política profissional", com decisões que visam a «concórdia» das diversas «opiniões e interesses» em questões do foro familiar ou até mesmo em relações no nosso emprego?
Não serão praticamente todas as decisões que tomamos e as a que estamos sujeitos que terão uma base política? Afinal, na sociedade em que vivemos não temos muitas vezes que ser "politicamente correctos"?...
Não serão as sociedade um reflexo das relações comando/obdiência, privado/público e amigo/inimigo?...
Mas deixemos a filosofia, mesmo que política, para outra altura.


Este blog não pretende ser um meio de defesa ou de ataque de qualquer ideologia política. Tenho a minha ideologia e convicção política, mas ela ficará "à porta".
Mais do que qualquer outra coisa, trata-se apenas dum local onde "escrevinharei" algumas notas que considerarei relevantes sobre diversos assuntos porque, afinal, Tudo na Vida é Política!

To whom this may concern...


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