22/07/2009

Educação na Política

Já aqui mencionei autores de referência capazes de nos ajudar a entender um pouco a "classe política".

Pegando na teoria de Gaetano Mosca, e tendo presente que num estádio primitivo das sociedades esta classe era composta essencialmente por militares cujos feitos em conflitos se destacavam, entende-se que paralelamente à evolução das sociedades a "classe política" se tenha tornado mais exigente quanto à sua constituição (não me refiro àquela que AJJ quer alterar mas sim à composição dos seus membros).
Sendo as sociedades compostas por dois grupos, os Governantes e os Governados, defende este autor a questão hereditária como um factor importante na ascenção do cidadão ao primeiro grupo, naturalmente mais restrito que o segundo.
Não é meu propósito decompor em pontos com os devidos esclarecimentos a tese de Mosca, nomeadamente no que entende por factores hereditários mas, e duma forma geral, podemos entender como sendo o ambiente (por exemplo familiar ou social) a que esse cidadão está sujeito e as condições que pode ter, com mais ou menos facilidade, de adquirir meios que permitam essa evolução.
Em suma, o cidadão que pertença a uma "casta" hereditária ou possuindo notoriedade, conhecimentos e cultura poderá aspirar a uma ascenção do grupo dos Governados para o dos Governantes.

E é aqui que começa a minha interrogação. Se a notoriedade, conhecimento, cultura, hereditariedade, graus elevados nas hierarquias militares e administrativas aumentam a probabilidade de aspirar a um lugar na "classe políticia", Governantes, então onde encaixa a educação, moral e o respeito pelas pessoas e instituições?

Entre muitas, as frases mais comuns entre nós, Lusitanos num país à beira mar pasmado, são: «os políticos querem é tacho», «os políticos querem é poleiro» ou mesmo «os políticos sabem é governar-se».
Não estará mais do que na altura da nossa "classe política" profissional parar para pôr a mão na consciência e ser muito mais exigente na selecção e defesa dos seus membros?
Já Max Weber dizia que existiam duas formas de estar na política: ou se vive para a política ou se vive da política.
Infelizmente, não vejo na "classe política" profissional, da esquerda à direita sendo raras as excepções, uma intenção verdadeira nem de se dignificar nem de esclarecer as pessoas e responder aos seus anseios e com isso contrariar a ideia generalizada de que «os políticos são todos iguais».

Este ano de 2009, a entrar ainda no segundo semestre, já presenciámos algumas situações caricatas que em nada dignificam o grupo dos Governantes e criam condições para que as pessoas continuem a apregoar frases depreciativas, fazendo com isso aumentar o descrédito na política e nas instituições.

Olhemos para Março de 2009 em que um deputado e vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, na "casa da Democracia", proferiu palavras obscenas para um seu colega de profissão. Consequências nenhumas, pois o deputado José Eduardo Martins continua em funções na AR. Seguramente que em algumas empresas este "funcionário" seria alvo dum processo disciplinar.

Veja-se a resposta dum Ministro do Governo PS quando confrontado com uma afirmação (ainda que falsa, e veja-se a
notícia do Jornal Expresso e ainda a publicada em 11/07/2009, pág. 10) dum deputado da bancada do PCP, também na Assembleia da República. Este acabou por, oficialmente (!?), pedir a demissão do Governo.

E esta semana, é o cidadão que ocupa o lugar de Presidente do Governo Regional da Madeira, eleito democraticamente, que chama «choné» a um deputado europeu e reputado Professor de Direito. Todos temos noção plena que consequências não existirão pois com esta "personagem" a situação não foi a primeira nem será certamente a última.

Reconhecendo em todos eles a condição de ser humano (e quem de nós um dia já não teve uma atitude irreflectida?) ainda assim pergunto: Quando a própria classe se desrespeita constantemente, estará porventura à espera de ser seriamente respeitada pelo povo?


Hesito...

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts with Thumbnails