Não era preciso o CDS-PP escarrapachar no meio da Av. da República um enorme cartaz a fazer a ligação das (inúmeras) obras na cidade de Lisboa ao período de vivência democrática em que, em breve, as cidades mergulharão: as eleições autárquicas.
Bastaria andar nas ruas, falar com as pessoas (as que moram e as que não moram em Lisboa) para perceber que essa ideia está mais que enraizada.
A Câmara Municipal de Lisboa decidiu transformar a cidade num estaleiro de obras. Até as vias que poderiam ser alternativas às que se encontram em transformação (em estrangulamento rodoviário, melhor dizendo) não escaparam. São para criar "corredores verdes" dizem. Bendita irregularidade encontrada no concurso de transformação da chamada "segunda circular" que evitou que o caos da cidade se transformasse no inferno.
Reconhecendo algum papel positivo na economia (nomeadamente no sector da construção), pode dizer-se que a avidez na transformação de Lisboa foi tanta que, em algumas freguesias, as obras que seguiram os planos da CML vão ter que ser agora destruídas, em parte, para fazer respeitar os planos anteriormente delineados pelas Juntas de Freguesia e que, inclusivamente, já haviam sido aprovados. Na origem desta situação estarão transformações alegadamente levadas a cabo de forma cega pela CML, seguindo o boneco de algum arquitecto paisagista que, digo eu, nem deve conhecer bem a zona, que dificultam, principalmente, a passagem de veículos essenciais à vida da cidade: carros de recolha de lixo e até mesmo carros de bombeiros, se necessários.
Num local onde o estacionamento de moradores (eleitores!) já era bastante complicado, encontram-se agora largos passeios (venham de lá essas esplanadas!) e o espaço para estacionamento reduziu, sensivelmente, para 2 terços.
Mas vamos continuar a acreditar que Lisboa é uma cidade que se quer virar para o futuro e para o turismo. Uma cidade de bem com o ambiente. Ambiente que beneficiará, com certeza, com a redução das emissões de dióxido de carbono. E essa redução ocorrerá porque se criam as condições necessárias para reduzir o número de viaturas na cidade: taxas para veículos antigos; parquímetros a nascer como se fossem cogumelos; vias de circulação rodoviária que reduzem para cerca de metade...
Mas toda esta estratégia da cidade poderia funcionar, e todos os corredores verdes, pedonais e ciclovias que estão a ser construídos poderiam se utilizados, se:
- existisse uma verdadeira rede de transportes públicos - são inacreditáveis os tempos de espera entre autocarros (chega às meias horas) e entre carruagens do 'metro' de Lisboa (muitas vezes mais de 10 minutos), constantes "perturbações" (todos os dias!) na circulação do 'metro' de Lisboa, pessoas amontoadas em autocarros e carruagens do 'metro' (tanto nas linhas com 6 carruagens como nas linhas que só colocam 3 carruagens), isto quando conseguem entrar e não são obrigadas a esperar pelo próximo autocarro ou 'metro';
- para quem não mora em Lisboa, existissem espaços para estacionamento alargados à entrada da cidade com ligação à pseudo-rede de transportes públicos;
- Lisboa não fosse cada vez mais uma cidade de "trabalho" e menos de "pessoas" - vejam a cidade aos fins-de-semana e avaliem a densidade populacional;
- Lisboa não fosse cada vez mais uma cidade de turistas e menos de moradores.
Mas mesmo para uma cidade que se diz que quer estar virada para o turismo, parece-me bastante irónico que não exista uma única indicação em inglês nas estações do 'metro' de Lisboa (nem sequer aquela que é a mais procurada pelos turistas: EXIT) ou nas paragens dos autocarros - algo impensável nas capitais europeias!
Não deixa de ser também irónico desta cidade que se diz virada para o turismo, obrigar há meses (quase um ano!!) os seu visitantes a subir e descer escadas em algumas estações do metropolitano com malas "às costas" porque as suas escadas mecânicas se encontram paradas (algumas vezes nos dois sentidos) em resultado de avaria - e neste ponto vou esquecer que este meio de transporte também é utilizado por pessoas com mobilidade reduzida e fingir que o problema é só para os turistas! Vou também esquecer que já vi pessoas idosas feridas, no chão, em resultado de quedas nas longas escadas que foram obrigadas a descer!
Termino como comecei: não era preciso algumas forças políticas fazerem a ligação entre obras e eleições. Bastaria sair à rua e conversar com as pessoas, com quem mora em Lisboa e com quem lá trabalha, para perceber que é com base no impacto que essas obras estão a ter que o julgamento será feito. E pelo que ouço, não é positivo.
Seria uma coisa simples e, muito provavelmente, poderia evitar algumas surpresas futuras.
Também na política não pode haver vistas curtas.