26/01/2010

Falsa pandemia ou hipocrisia?


Quem me conhece sabe o que penso da comunicação social, especialmente daquela que tende a confundir-se com hienas famintas e abutres... enquanto que os animais, mesmo os necrófagos, agem segundo um instinto de sobrevivência, a impressa que vive da polémica tem por hábito usar métodos deontologicamente condenáveis e para apontar o dedo a terceiros esquecendo sempre a sua própria responsabilidade e contribuição para a confusão!

Agora, vemos muitos jornalistas, ou melhor dizendo, pseudo-jornalistas e muitas empresas de notícias, do alto dos seus pedestais, onde a imundice os coloca, e com um ar de imaculada indignação, a darem a conhecer "indícios" da influência da industria farmacêutica no anuncio de pandemia do virus H1N1.

Não quero de qualquer forma contestar ou contra-argumentar contra essas alegadas influências denunciadas por Wolfgan Wodarg, futuro ex-presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. Se as houve, confesso que não ficaria admirado.

Mas o que me deixa completamente boquiaberto é o facto desta imprensa medíocre dar destaque a essas alegadas influencias esquecendo o seu próprio papel na pressão que fez sobre Governos, Organizações e sobre as populações. Foi esta pseudo-imprensa, e não a OMS ou os Governos, que fizeram da gripe A um bicho incontrolável ou uma arma de destruição maciça.
Não foi esta pseudo-imprensa que criou o pânico na população e que chegou a comparar a Gripe A com a Gripe Espanhola?
Não foi esta pseudo-imprensa que não descansou até que alguém, neste caso, que algum português tivesse uma morte provocada pelo vírus H1N1? Lembro-me até que os primeiros "casos de morte por vírus da gripe A" afinal não foram de Gripe A... todos os dias havia alguém em Portugal que padecia devido a este "vírus mortal".
Não foi esta pseudo-imprensa, que agora cobra o facto de existirem milhões de vacinas compradas e não administradas, que noticiava que os stocks das empresas farmacêuticas estavam a ser escoados a um ritmo que, por exemplo em Portugal, o Governo corria o risco de não ter vacinas a tempo? (estranho conhecimento dos ritmos de venda das vacinas... que "fonte anónima" poderia estar na origem duma informação destas?!)
Não foi esta pseudo-imprensa que, em conferências de imprensa promovidas pelo Min. da Saúde, onde era a própria Ministra que fazia pontos de situação, direccionava as suas primeiras perguntas para "quantos infectados há em Portugal?", ou "quantas vítimas mortais estão contabilizadas?" ou ainda "quando é que o Governo adquire as vacinas contra a pandemia?"... será que já ninguém se lembra?

A atitude que esta pseudo-imprensa revela agora quase que dá vontade de pensar: "então esta gente é toda estúpida e não viu logo que isto era uma gripezita e que era um disparate comprar vacinas para toda a gente?! Estava na cara! Andam todos a dormir! Onde será que foram buscar esta ideia de que este vírus ia matar milhões e milhões de pessoas?"

Agora, são todos culpados: a OMS que se deixou influenciar por interesses privados; as farmacêuticas que influenciaram; os Governos porque compraram a mais.
E será que esta pseudo-imprensa não percebe, ou não quer que as pessoas percebam, que também eles contribuíram, provavelmente mais do que qualquer outro, para aquilo que de facto se revelou uma histeria generalizada?

Como em Portugal gostamos sempre de estar um pé à frente dos outros (pena que não tenhamos movimentos separatistas em território luso para tornar os dias desta pseudo-imprensa bem mais completos e plena de verborreia intelectual) só lhes falta dizer que uma das industrias a que o Governo mostrou subserviência foi a dos produtos de higiene que, à base "formulas ultra inovadoras" (e que ao fim e ao cabo não passavam de mistelas com álcool), vendeu que se fartou - quando um simples sabão azul e branco fazia o mesmo efeito!

Resta encontrar a fonte do problema: má formação académica, má formação deontológica ou más linhas editorias? Vá-se lá saber...

Hesito... até porque o Inverno ainda não acabou!


2 comentários:

  1. Até porque, não esqueçamos, agora é impossível avaliar a verdadeira expressão (ou custo potencial) da gripe A devido, exactamente, à eficácia e à celeridade da vacinação.

    Sendo certo que o virus não era particularmente agressivo, foram aparentemente contidas as mutações (ah, a Evolução!) que consistiam, realmente, o cerne das preocupações.

    De qualquer modo, preocupa-me bastante a reacção das pessoas a um próximo "alerta" deste tipo. Sendo certo que a maior parte das facas não são muito afiadas, por assim dizer, bem temo que, a acontecer algo do género numa proxima ocasião, não se respeitem as indicações da OMS e da DGS.

    Enfim. Temos acesso a demasiada informação, mas somos extremamente deficitários na capacidade de raciocínio. O tempora, o mores, como dizia o outro.

    Mas mais preocupante que a comunicação social (que é ao mesmo tempo causa e efeito da inépcia populaça) é o total e descarado aproveitamento político desta questão. Mas, enfim, desses já não espero nada

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  2. Amigo Gonçalo, obrigado pelo comentário.
    No entanto acho que a resposta à tua preocupação relativamente à «reacção das pessoas a um próximo "alerta" deste tipo» é muito simples:

    O seu grau será proporcional ao destaque que a pseudo-imprensa e até a imprensa derem ao assunto!
    :)

    Abraço
    PM

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