30/08/2009

Paladinos da ética

A divergência de ideias é saudável e é, normalmente, a partir da discussão que nascem as melhores conclusões e soluções.
Há ideias boas e más. Mas quando se discutem ideias sérias com ideias estapafurdias o resultado só pode mesmo ser um chorrilho de asneiras.

Há uns dias atrás, Marques Mendes, na Universidade de Verão do PSD defendia, e com toda a razão, que a bem da política e das instituições não deverão ser candidatos a eleições indivíduos condenados por crimes graves como fraude fiscal ou corrupção. Uma clara alusão às listas de candidatos apresentada pelo seu partido.
No dia a seguir à defesa destas, digam-se acertadas, ideias de Marques Mendes, veio Paulo Rangel, o grande vencedor das eleições europeias*, em defesa da presidente do seu partido: «a credibilidade da política não está na ética».

Pergunto eu: se «a credibilidade da política não está na ética» então está onde? Será que devemos tomar por credível um indivíduo cuja condenação por corrupção ficou provada? A presunção de inocência deve ser sempre um pilar num estado de direito. Mas quando fica provado em tribunal que esse indivíduo de facto atentou contra a lei, merece que o eleitor deposite nele confiança para exercer cargos de governo?

Esta discussão nem sequer se deveria estar a colocar. Cabe ao visado ser o primeiro a tomar a inciativa de se afastar até que o processo de acusação e julgamento termine.
Se a fome de poder for maior do que uma reflexão ética cabe às direcções do partidos se demarcarem destes indivíduos.
Se ainda assim isso não for suficiente, em última instância cabe ao eleitorado afastar estas pessoas ou os partidos que os suportam.

Não sou nem nunca fui grande defensor de Marques Mendes. Lembro-me dos governos a que pertenceu e de algumas ideias que defendeu enquanto presidente do PSD. No entanto não posso deixar de enaltecer a sua defesa da credibilidade política. Infelizmente é um dos poucos nessa luta.


* Para que não fiquem quaisquer dúvidas, quando escrevi que Paulo Rangel foi o «grande vencedor das eleições europeias» fi-lo com ironia. Vi muita peça jornalistica a coloca-lo nesse pedestal.
Nada de mais errado. É um facto que o PSD, com Paulo Rangel como cabeça de lista, foi o mais votado nas eleições para o Parlamento Europeu. Mas basta olhar para todas as sondagens que foram feitas antes das eleições para se constatar que o resultado que "Paulo Rangel obteve" não se desviou do resultado que era esperado. Todos os outros partidos excederam as previsões com excepção do PS que desceu. O único que se manteve na linha das sondagens foi o PSD.
Por isso entendo que o destaque que é dado a Paulo Rangel é exagerado (lembremo-nos das suas prestações como líder parlamentar na AR para aceitarmos que é apaenas mais uma cara no partido).


Há no PSD, seguramente, outras figuras com ideias mais enriquecedoras para a discussão política.



1 comentário:

  1. Dizia o Sá Carneiro que "(...)a política sem luta é uma sensaboria e sem ética uma pouca vergonha." Mas o Paulo é de outra geração, de outra estirpe, de outros mundos. E diz-nos muito a referência a Maquiavel. Texto e subtexto ;)

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