19/02/2011

O Sistema Eleitoral Português

Finalmente li um dos livros que, há mais de um ano, estava em lista de espera: «O Sistema Eleitoral Português, crónica de uma reforma adiada».

O autor baseou-se em obras dos Professores Manuel Braga da Cruz, Manuel Meirinho Martins, André Freire, Pedro Magalhães, entre outros, para, ao longo do trabalho, nos deixar algumas reflexões e uma descrição muito clara, sem ser demasiado exaustiva, de todos os processos de intenção e concretização de reformas eleitorais desde 1974.
Permite-nos, assim, compreender melhor as posições e propostas anteriores dos partidos políticos em relação às reformas eleitorais e, numa perspectiva comparada, não se tornam evidentes diferenças significativas ao longo dos anos.

Porque recentemente se deu inicio, promovida pelo PS e PSD, a nova discussão (?!) sobre uma eventual reforma do sistema eleitoral, este livro publicado em 2008 adquire uma nova actualidade porque nele podemos encontrar diversas semelhanças com reformas anteriores e, eventualmente, nos permitirá antecipar o seu desfecho no que respeita aos pontos principais em discussão, nomeadamente, e apenas como exemplo, à "famosa" redução do número de deputados na Assembleia da República.

Resultado da dissertação de mestrado de Nuno Sampaio sobre um tema recorrente ao longo da jovem democracia portuguesa, não deixa de ter um subtítulo muito interessante e, por que não dizê-lo, muito adequado.

Pois, tal como na obra de Gabriel García Marquez, «Crónica de uma morte anunciada», quando já todos sabiam que Santiago Nasar ia morrer excepto o próprio, também as reformas eleitorais em Portugal tem o seu vaticínio: na luta pelo poder, a tendência é a ausência dum equilíbrio entre quem o disputa. Há sempre alguém que ganhe mais e há sempre alguém que perca mais. Estarão as forças políticas dispostas a correr o risco de perder na distribuição desse poder?

Provavelmente também aqui possamos aplicar o "dilema do prisioneiro"...

16/02/2011

Emprego, trabalho e jornalismo

A SIC, hoje, ao fazer notícia sobre a "geração à rasca" mostrou que consegue fazer "jornalismo rasca". Deu-se ao trabalho de fazer um trabalho de comparação entre "Pai" e "Filho" no mercado de trabalho.
Um dos exemplos, e que mostra o carácter científico da coisa, mostra o "Pai", na área da saúde com acesso ao SNS e com um seguro de saúde pago pela empresa. Já o "Filho" só tem direito ao SNS porque "os jovens têm trabalho precário"... nem o meu avô nem o meu pai não tiveram seguro de saúde pago... eu tenho, mas é pago por mim!

Depois, os directos são tramados. Apresentam-nos um exemplo da dramática realidade dos jovens de hoje: um jovem licenciado desempregado! À pergunta do jornalista o jovem responde: "sou licenciado em cinema e acabei o curso há 7 meses".
Um exemplo dum jovem que terminou recentemente a sua licenciatura e não consegue há 7 meses encontrar trabalho na sua área. Na minha opinião, e se era para chocar os espectadores, um exemplo que revela uma escolha errada!
Há muitos jovens que há muito mais tempo estão à procura de emprego e não conseguem!

Mas continuando na reportagem, e depois de tanto acentuar o drama daquele jovem, o jornalista ainda foi interrompido pela mãe do jovem que queria terminar o directo dizendo: "espero que o nosso filho não tenha que ir para o estrangeiro como nós quando começámos a trabalhar"!! Então, pelos visto, a "geração à rasca" já não é de hoje!

Consegui, apesar da insistência da jornalista Clara de Sousa num cenário negro em Portugal para os jovens licenciados, ouvir as palavras do reitor da Univ de Coimbra dizer que este não é um problema exclusivamente português ("raios", deverão ter pensado os arautos da desgraça) e ainda do responsável do IST a falar das altas taxas de empregabilidade dos seus licenciados e de que não não vem nenhum mal ao mundo se os jovens tiverem que ir para o estrangeiro porque lá fora não há qualificações como as nossas!
Lembremo-nos que, muito recentemente, na Alemanha falava-se na possibilidade de importar jovens licenciados nas áreas de tecnologias em virtude da sua escassez desta "matéria prima".

E já agora: "a taxa de desempregados com menos de 25 anos é o dobro da média nacional" anunciava em rodapé a SIC, mas pergunto eu: "e, então, qual é grandeza da taxa de desempregados com mais de 25 ou até de 45 anos em relação à média nacional?"
... entendo o desemprego como o maior dos males das sociedades, mas mais me revolta ver uma pessoa com mais de 35, 40 ou 50 anos à procura de um emprego e com poucas esperanças em o conseguir, do que um jovem que terminou o seu curso há pouco tempo e não consegue um emprego naquilo em que gostaria de trabalhar.

Este tema não é um tema com que se deva brincar, muito menos para "vender" jornais ou notícias. É muito sensível e deve ser lidado com seriedade!...

Há rascas e rascas, mas o que vi hoje foram alguns jornalistas rascas!
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