23/08/2009

O perfeito disparate

Aqueles que me conhecem sabem bem o que penso sobre a qualidade do jornalismo em Portugal: péssima!
Há honrosas excepções mas uma grande parte dos jornalistas portugueses não presta um bom serviço ao país e à imagem da sua classe profissional. Culpem as linhas editoriais, culpem dos directores, culpem as orientações políticas dos grupos detentores das empresas de comunicação social, culpem quem quiserem, mas os principais responsáveis são os próprios jornalistas que, na ânsia de verem o seu nome ligado a uma notícia polémica ou bombástica são capazes de deixar de lado toda e qualquer regra deontológica ou moral.
E, claro está, os média aproveitam-se de tudo isso para tentar aumentar volumes de vendas.

No seguimento deste mau jornalismo, o Expresso, na edição deste fim de semana, na página 4 contribui substituindo a notícia por uma novela.
É incrivel que um jornal de referência como é o Expresso encha páginas com "hipóteses" de conspiração.
Na hipótese 1 o Prof. Cavaco Silva perde a paciência e «quer vingança». Na hipótese 2 a intenção do Presidente da República é «fragilizar Sócrates» e «vale tudo, incluindo acusá-lo de espiar Belém».
A última hipótese, a 3ª, diz que o PR perdeu o pulso de ferro que tinha antes e não controla os seus acessores.
Ao que isto chegou!

Tudo isto porque dois militantes do PS trouxeram à discussão situações de cooperação entre acessores do PR com o PSD para a elaboração do programa eleitoral, exposta num artigo do jornal Semanário e não resultado de "escutas".
Mas pior que a menção dessas situações, que não são novidade, foi o que se seguiu.

Os orgãos de comunicação social, talvez sem mais nada que pudesse encher manchetes, empolaram o assunto com recurso a "fontes anónimas" ou "fontes não oficiais" ou ainda "fontes próximas". Os partidos, alguns, sedentos de algo que desviasse a atenção dos verdadeiros problemas, mandaram mais achas para a fogueira negando coisas que antes haviam reconhecido.

Curiosa é também a afirmação da Sra. Manuela Ferreira Leite, que ajuda à festa, que diz «não quero saber se há escutas ou não. As pessoas sentem que há».
Uma visão bastante interessante - quem sabe se o juizes em Portugal também possam aplicar esta máxima nos julgamentos: não interessa se há provas ou não, interessa é que as pessoas achem que é culpado, logo condena-se...
E assim lá se vão alimentando especulações... desde que as pessoas achem.

Leiam-se as palavras do Sr. Paulo Portas, também ao Expresso: «Toda a vida os consultores de vários presidentes tiveram actividade cívica e isso nunca causou nenhuma surpresa». Reconhece ainda que um dos acessores do PR, Sevinate Pinto, ex-ministro da Agricultura no Governo de coligação PSD/CDS, colabora com o CDS-PP.
Será que daqui a umas semanas vamos voltar a ouvir falar em "escutas" por causa da "divulgação" desta colaboração?

E assim se enchem espaços notíciosos de nada.
Uns consideram este tema um «disparate de Verão». Eu considero uma «estupidez de Verão».

Em suma, não sei a verdadeira «estupidez de Verão» é provocada pelos acessores não identificados do PR, dirigentes partidários ou jornalistas. Sinto-me tentado a eleger os últimos!

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