15/03/2010

Mais do mesmo...

Do congresso do PSD realizado em Mafra nos dias 13 e 14 de Março retiro a seguinte ideia: mais do mesmo, mas pior!

Senão vejamos. Aquilo que visava a discussão política e a alteração estatutária resultou numa passerelle de candidatos, putativos candidatos, e no final, a cereja sobre o bolo, aquela que já é conhecida como a "lei da rolha".

Fazendo minhas as palavras do Sr. Presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Fernando Costa, naquele que se pensava que iria ser um discurso "divertido" mas que acabou por ser um dos discursos mais verdadeiros do congresso: «eu nunca ouvi dizer tanto mal do Engº Sócrates como aqui, e pior, já se diz aqui mais mal dos empresários e das grande empresas que o Carvalho da Silva, do que o Bloco de Esquerda, do que Partido Comunista» o que, ainda segundo o próprio, não passa dum «discurso radical, de circunstância».

Deu inclusivamente para se aplaudir sarcasmos contra a «má moeda» de Cavaco Silva e minutos depois, através do mesmo orador, aplaudir o apoio à recandidatura do mesmo Cavaco Silva que fez com que Santana Lopes, dizem, perdesse essas eleições.

E foi nesta toada que desfilaram os oradores.

De todos o que tive oportunidade de ouvir, registo de Fernando Costa, que disparou em todas as direcções sem falhar um único tiro. Lembrou a "asfixia" da direcção do partido ao afastar Pedro Passos Coelho das listas à Assembleia da República, passando pelo «intelectual» Pacheco Pereira e lembrando, com toda a razão, que o PSD perdeu as eleições porque não conquistou o eleitorado. Como disse, «ganhou cá dentro, mas perdeu lá fora».
Teve ainda tempo para espicaçar Paulo Rangel com um «ganhar a Vital Moreira até eu ganhava»!
Parece-me que "rompeu" com os discursos repletos de unificação ainda que imbuídos de ataques e indirectas em tudo idênticas ao que temos vindo a observar no PSD, uma luta interna, por vezes traiçoeira (recordem-nos do momento em que foi apresentada a candidatura de Rangel), e à desunião descarada.
Um dos poucos momentos de verdade e seriedade.

Destaco também o discurso do Prof. Marcelo que deixou um recado aos 4 candidatos a líder do PSD, mas parece-me que passou despercebido ou, quem sabe, os candidatos não tenham tido vontade de o perceber.
Quando o Prof. MRS defendeu que o PSD teria que se empenhar agora nas Presidencias não estava a insinuar que o futuro presidente do PSD, qualquer que seja o candidato vencedor no próximo dia 26 de Março, deva estar ao lado da recandidatura de Cavaco. Vai estar certamente e isso todos já o sabem.
Aquele que me pareceu ser o seu verdadeiro sentido tem a ver com a vontade com que, principalmente Coelho e Rangel, andam de forçar eleições legislativas logo na entrada do 7º mês deste Governo.

Não obstante o facto da sobrevivência do próximo líder do PSD passar por um acto legislativo muito em breve, não dando assim tempo a que as lutas internas (que se prevê continuar) o destruam como tem acontecido até agora aos sucessivos lideres, Marcelo Rebelo de Sousa entende que o PSD não pode estar na origem duma crise política artificial. E tem razão.
Curioso é o perfil que traça para o novo presidente do PSD que, a esta distância, me parece ser o seu próprio perfil.
Serviu isso para deixar alguns corações a palpitar pelo seu anúncio a candidato mas, e porque me parece que é a Belém que pisca o olho, ficou adiado.

Creio que nem Marcelo resistiria até 2013 como líder do PSD.

O terceiro registo dos discursos no congresso são os proferidos pelos os candidatos a presidente do PSD. E é fácil de resumir: muita retórica, muito entusiasmo, muitos fins e poucos meios. Fraco no conteúdo e na concretização.
Estou em crer que, no dia em que José Sócrates deixar de ser o líder Socialista, o PSD deixará de ter um objectivo de luta (política).

Por fim, e no fim, os militantes do PSD "borraram a pintura toda".
O partido que defende que existe em Portugal um clima de «asfixia democrática» e de limitação da liberdade de expressão, proíbe e sanciona os seus militantes por se insurgirem ou manifestarem ideias contrarias ao aparelho do partido nos 60 dias que antecedem actos eleitorais.
Um jornalista atento, ou provocador, comentou com o autor desta proposta, Pedro Santana Lopes, que «nem o Partido Comunista tem isso escrito». A resposta foi elucidativa: «temos nós».

O curioso é que, apesar dos 370 e tal votos que aprovaram essa alteração estatutária, contra 70 e alguns contra e ainda cento e tal abstenções, tirando Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite com o seu «concordo que se um partido tem regras estas tem que ser cumpridas» (isso também eu defendo) agora não se conseguem encontrar quem esteja a favor.

Mas Zita Seabra, no jornal de hoje na TVI24, já encontrou a explicação para o sucedido: distracção! Os militantes «estavam distraidos»!... Os companheiros estavam num «congresso alegre» e «distrairam-se»! Belo atestado. Quase 400 pessoas distraídas.
O que seria se não se tratasse duma votação à alteração aos estatutos


Penso que, desta forma, e outra vez, o PSD passa ao país uma má imagem da política, dos políticos e, principalmente, dum partido que pretende ser uma alternativa à governação.
Assim, não vão lá!

Fica aqui aquele que considero o discurso que marca este congresso.




Melhores tempos virão... resta saber é quando.




3 comentários:

  1. (Vou divertir-me quando o PS discutir no Plenário da Assembleia a idiotice da alteração estatutária do PSD. Não porque ela seja muito mais do que isso – idiota e iliberal – ou porque não mostre que os candidatos laranja a liderar o país estão impreparados ao ponto de não terem ligado à proposta de Santana Lopes. O que me divertirá será escutar os argumentos do PS para estas disposições estatutárias:
    “A pena de expulsão só pode ser aplicada por falta grave, nomeadamente o desrespeito aos princípios programáticos e à linha política do Partido, a inobservância dos Estatutos e Regulamentos e das decisões dos seus órgãos, a violação de compromissos assumidos e em geral a conduta que acarrete sério prejuízo ao prestígio e ao bom nome do Partido”; “Considera-se igualmente falta grave a que consiste em integrar ou apoiar expressamente listas contrárias à orientação definida pelos órgãos competentes do Partido, inclusivé nos actos eleitorais em que o PS não se faça representar”.
    Leram bem, não leram? Se duvidarem podem consultar os Estatutos do PS e procurar o artigo 94º. Aqui, ao menos, não há prazo de 60 dias: a “inobservância” das decisões dos órgãos do partido dá logo direito a expulsão.
    Certamente que nos saberão explicar que nada, nestas disposições, é “estalinista”.)
    Isto é um texto publicado na net ao qual tive acesso numa simples pesquisa google. Por imperativo ético, os aficionados cor-de-rosa deveriam ter cuidado ao cuspir para cima... é que chega a hora e cai na própria testa.
    Aproveito para salientar este facto: tem mais substância política um minuto da maioria das intervenções do último congresso do PSD que 5 horas, bem espremidas, de qualquer discurso monocórdico de um evento semelhante pelas bandas socialistas.

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  2. Amigo Paulo.

    A proposta submetida e aprovada em votação pode ser encontrada aqui:
    http://www.psd.pt/archive/doc/Proposta_de_alteracao_estatutaria_ao_XXXII_Congresso.pdf

    No entanto, o nº do Art. 9º em questão é:

    «6. A violação da alínea f) do n.º 1 do artigo 7.º é tipificada como infracção grave,
    especialmente quando a mesma se consubstanciar na oposição às directrizes do Partido
    no período de sessenta dias anterior à realização de actos eleitorais nos quais o
    PSD/PSD apresente ou apoie candidatura.
    »


    A «alínea f) do n.º 1 do artigo 7.º» é:

    «f) Ser leal ao Programa, Estatutos e directrizes do Partido, bem como aos
    seus Regulamentos;
    »


    Deixo essa discussão para os peritos, mas parece-me que o que está em discussão é quando «se consubstanciar na oposição às directrizes do Partido»... ridicularizado num prazo de 60 dias.

    Naturalmente que quando alguém se torna militante dum partido deverá seguir a sua orientação Politica e Programática. Caso contrário não se deverá filiar e os estatutos dos partidos (ou associações) contêm sanções para essas situações. O PS não haveria de ser diferente. Mas ainda assim, deverá qualquer militante ter a liberdade para se colocar em discordância com uma directriz... e discordar é colocar-se em "oposição"... como se vê, acaba a norma por conter um conceito de "oposição" muito subjectivo... mas isso digo eu que não percebo nada de militância partidária...

    Agora, um facto é que na luta partidária, quando um partido se põe a jeito, apanha! E o PSD pôs-se a jeito (mais uma vez).

    Termino como terminei o "post": Assim, não vão lá!

    Forte Abraço

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  3. Posso até acrescentar que, neste caso especifico, o "espírito da lei" é mesmo «constitui infracção grave falar 60 dias antes de eleições legislativas ou outras contra a posição dos órgãos competentes do partido em público fazendo o jogo do adversário»!

    E não sou eu quem o diz. É o autor da proposta. Podem confirma-lo aqui:
    http://www.youtube.com/watch?v=5JN2HLqrDr0

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