Quando li que o Sr. Medina Carreira no seu livro, que lançará no dia 14/09, «arrasa a classe política e dá as suas soluções para 'endireitar o País'» fiquei admirado. Não pelo facto de lançar (mais um) livro, nem pelo facto deste arrasar a classe política - o costume. A minha admiração deve-se ao facto de dar «as suas soluções para 'endireitar o País'». Isto sim, é novidade numa pessoa que quando lhe perguntam quais as soluções e alternativas para evitar os cenários catastróficos que preconiza responde com um «não sou eu que tenho que encontrar soluções» ou «eu não faço parte do Governo».
Confesso que coloquei na minha lista de compras este livro de Medina Carreira, quebrando assim uma determinação minha em evitar comprar maus livros. Seria este a excepção, apenas pela curiosidade de conhecer estas soluções. Mesmo correndo o risco de encontrar soluções do mesmo tipo que dava enquanto Minístro das Finanças, quando confrontado com o aumento dos combustíveis: «[os portugueses que] andem de burro»!
No entanto li a entrevista deste Sr. à revista Visão. Começa, como todas as outras, com as raízes e origens do entrevistado e as "dificuldades" como atingiu o curriculum e estatuto actual.
Depois de ter terminado de ler a entrevista a este antigo Ministro das Finanças licenciado em Direito fiz um risco na minha lista de compras. Mantenho meu princípio: dinheiro gasto em livros, só mesmo em bons livros.
Concluo que o Sr. Medina Carreira continua igual a si próprio.
Destaco aqui pequenos pormenores reveladores das previsões e soluções que MC nos poderá dar:
«Com 27 anos, como viu a candidatura de Humberto Delgado?
Viu-se que o regime ia descambar. Mas o desmoronamento foi em 1960, 1961. E eu vejo hoje Portugal a desmoronar-se de forma parecida: sem norte, sem chefia esclarecida, sem elasticidade, sem capacidade de adaptação... Sinto hoje um Portugal tão trémulo como nos últimos dez anos do Estado Novo.»
- Qual Zandinga qual quê...
«Como se vê nas suas intervenções, e neste novo livro, continua zangado - e um pessimista inveterado.
Sou um pessimista sob condição. Se continuarmos com estas instituições a funcionar tal como estão, os dirigentes políticos que para aí andam e mais o seus acólitos, que vivem da política, eu sou um imenso pessimista.»
«Os políticos profissionais também estão no poder noutros países da União, que estão melhor que nós...
Sim, é essa a diferença. Nós somos mais pobres e estamos a ficar ainda mais pobres, em relação à Europa.»
- Qual é, afinal, a diferença...?
«Mas o senhor já fazia previsões catastróficas há dez ou 15 anos. Nesta altura Portugal já não devia existir. O que correu menos mal?Catastróficas, não! O que eu digo - e se calhar, essa mensagem não passa - não é para "amanhã". A sociedade portuguesa está viciada em falar "ontem" para "amanhã". Ora, a direcção que o nosso País leva não se mede entre dois centímetros, mas em dois metros. E se vir como estávamos em 2000 e como estaremos em 2010, verá. A longo prazo, anda não errei nada! Em 1995 escrevi um livro sobre políticas sociais. E disse que era absolutamente necessária uma reforma da Segurança Social antes do séc XXI. Ela só se fez agora, em 2006... Este ministro fazia parte da equipa que engonhou aquilo tudo. Disseram ao Guterres que isto estava garantido até ao fim do séc. XXI! Quem percebe isto dez anos depois, não deve ser ministro!»
«Mas olhe que os economistas falham muito nas suas previsões. Viu-se na crise e está a ver-se nas previsões sobre a retoma...
O problema é diferente. Temos de olhar para os gráficos. Para a evolução da nossa Economia. A tendência de estagnação e empobrecimento. É perante esta tendência que eu digo "cuidado". Porque, ao mesmo tempo que temos uma economia menos produtiva, temos um estado que exige cada vez mais meios para sustentar os seus compromissos sociais! E a despesa social está a crescer três vezes mais do que a Economia!»
- Os economistas falham... mas MC não falha porque é formado em Direito... será essa a razão?
«Mas a deslocalização do investimento não afecta só Portugal. Também afecta os nossos parceiros, onde há mais protecção aos trabalhadores.
Os governos têm de dizer: 'Meus senhores, ou querem os empregos e passam a ganhar menos, ou querem mais dinheiro e não há tantos empregos'. As pessoas podem optar - e a democracia é isto. O País pode dizer: ' Ah, então antes queremos ser pobrezinhos, enrascados, passar o tempo na praia a apanhar sol' e tal. Pronto, então tudo bem. Ou então as pessoas querem viver melhor - e a malta quer viver melhor, coitada! E com toda a legitimidade.»
- ... revelador!
«Mas, no seu tempo, a Educação tinha melhor qualidade? Com meio país analfabeto? E se tinha, como chegámos à situação actual?
Lá está você a confundir! Para as pessoas aprenderem não era preciso estarem lá todos! O abandono escolar, quando é feito por aqueles que não andam lá a aprender nada, é uma coisa boa! Nem gastam dinheiro à gente nem chateiam os outros! Esta ideia imbecil da escola inclusiva serve para depositar dentro de quatro paredes uns tipos! Para que o eng.° Sócrates e a Maria de Lurdes Rodrigues lhes passem, depois, um papelucho! Um tipo com cabeça devia perguntar, olhando para o papelucho: 'E isto serve para limpar o quê?'
Mas exagera um bocadinho. No seu tempo, em que a escola era tão "boa", havia 30 ou 40% de analfabetos. Hoje não há uma criança que não saiba aceder à internet. Não acha que melhorámos?
Se a criança souber ler, escrever, ler, contar, pensar, expor, tudo bem. O Magalhães vai morrer por si próprio. As crianças escangalham aquilo tudo rapidamente ou vendem-no na Feira da Ladra...»
- O nível da entrevista pode mesmo deixar a dúvida, não relativamente à qualidade escolar daquele tempo mas sim à qualidade dos alunos... melhor, do aluno!
E o chorrilho dos habituais disparates de Medina Carreira continuam aqui!
12/09/2009
Postas de pescada...
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