29/09/2009

O Presidente falou...

... e não disse nada que se aproveitasse!

O Sr. Presidente da República falou e, mais uma vez, não conseguiu ser claro nem na forma, nem no conteúdo, nem no objectivo.
Pretendeu justificar algo em que se viu envolvido (ou se envolveu) e tentou tapar o sol com uma peneira.


Já o aqui disse por mais do que uma vez, e esta declaração só vem dar mais força a esta ideia: a degradação das relações institucionais entre o Governo e a Presidência tem na instituição "Presidente da República" a principal responsável.

O Sr. Presidente Cavaco Silva começa a sua declaração dizendo que «não existe em nenhuma declaração ou escrito do Presidente qualquer referência a escutas ou a algo com significado semelhante».
Justifica, por isso, a sua decisão de afastar o assessor envolvido nesta polémica no facto de «o e-mail publicado deixava a dúvida na opinião pública sobre se teria sido violada uma regra básica que vigora na Presidência da República: ninguém está autorizado a falar em nome do Presidente da República, a não ser os seus chefes da Casa Civil e da Casa Militar. E embora me tenha sido garantido que tal não aconteceu, eu não podia deixar que a dúvida permanecesse. Foi por isso, e só por isso, que procedi a alterações na minha Casa Civil.»

Além de chegar à conclusão que todas as "fontes" da presidência, excepto os chefes da Casa Civil ou da Casa Militar, não são credíveis entendo também que há dois pontos importantes a reter: ou o responsável pelo jornal Público mentiu (e por escrito) inventado encontros e suspeitas, e o próprio Presidente a levanta també esta suspeita («Desconhecia totalmente a existência e o conteúdo do referido e-mail e, pessoalmente, tenho sérias dúvidas quanto à veracidade das afirmações nele contidas.») ou alguém na Presidência está a mentir.

Não posso, no entanto, de deixar de recordar as palavras de Nicolau Santos (cujas crónicas semanais no jornal Expresso sigo com alguma atenção) sobre o assessor que, segundo Cavaco Silva não falou com ninguém:
«Eu, que tive em Fernando Lima o meu primeiro chefe quando entrei no jornalismo, ponho as mãos no fogo: ele nunca daria um passo destes, num assunto extremamente sensível, sem a aquiescência, ou pelo menos o conhecimento de Cavaco Silva. Só quem não conhece Lima pode supor outra possibilidade.» (aqui).
Curiosamente, outras pessoas ligadas aos meios de comunicação também fazem este tipo de avaliação sobre o Sr..


No fim do discurso ficou, parece-me claro, tudo por esclarecer. As palavras de uns contra os escritos de outros.

No que me parece ser uma tentativa de justificar toda esta embrulhada em que viu envolvido, alude a «declarações de destacadas personalidades do partido do Governo» sobre a participação de membros da sua casa civil na elaboração do programa do PSD e que mais uma vez, segundo o Sr. Presidente, não passavam de mentiras («de acordo com a informação que me foi prestada, era mentira»).
Pois as referidas declarações não passavam de comentários e interpretações no seguimento de notícias publicadas sobre a participação de assessores da Presidência na elaboração do programa eleitoral do PSD, inclusivamente anunciadas pelo próprio PSD no seu sitio de Internet.
Parece-me que, também neste ponto, o Sr. Presidente terá sido mal informado.

A seguir voltam-se a misturar temas, anunciando que «A primeira interrogação que fiz a mim próprio quando tive conhecimento da publicação do e-mail foi a seguinte: “porque é que é publicado agora, a uma semana do acto eleitoral, quando já passaram 17 meses”?»

Será sou eu que não sei fazer contas ou as eleições foram a 27 de Setembro e a primeira notícia sobre as suspeitas de escutas na Presidência foram publicadas no jornal Público de dia 18 de Agosto?
Será que em Agosto todos podiam falar em nome do Presidente e da Casa Civil e só agora é que isso é ir contra a regra?
Por que razão, logo nessa altura, o Sr. Presidente Cavaco Silva não esclareceu que ninguém fala por ele?
Estranho timming, não?!...

Mas tudo isto, diz-nos o Sr. Presidente, com dois objectivos claros: colar a imagem do Presidente ao PSD e desviar as atenções dos portugueses dos assuntos que eram de facto importantes.

Esta parece-me ser a maior e a melhor evidência que a imagem do Sr. Presidente está de facto colada ao PSD. Não porque o PS o tenha feito ou tentado sequer, mas sim porque o próprio Presidente da República o faz.
É o Sr. Presidente Cavaco Silva que vem hoje anunciar (mais) uma teoria da cabala com origem no PS juntando-se assim, recordemos, ao PSD que passou uma campanha eleitoral inteira a promover este tipo de insinuações infundadas desviando, isso sim, as atenções do que de facto era importante discutir.
Se isto não é colar imagens ou discursos então não sei o que será!

No fim, nem sei bem a que propósito, ficamos todos a saber que toda situação culmina no facto do sistema de comunicações da Presidência não apresentar um nível de segurança que seria desejável.
Recorde-se que, mesmo com «vulnerabilidades», o e-mail que coloca um assessor da Presidência e o próprio Presidente no centro de toda a polémica não saiu da Casa Civil mas sim do Jornal Público (ainda que o sistema de comunicações não tivesse sido violado como concluíram elementos desse órgão de comunicação social)

Em conclusão:
o sr. Presidente, como o fez já em situações anteriores, veio ocupar espaço de antena de forma completamente atabalhoada e sem qualquer explicação cabal, lançado para a praça pública declarações sem qualquer fundamentação baseadas em interpretações pessoais.
Se as relações entre a Presidência e o actual e futuro Governo (assim se espera) já não estavam estáveis, o Sr. Presidente veio colocar mais uma acha na fogueira com aquilo que considero ser uma tentativa de sacudir a responsabilidade duma situação que continua por esclarecer. Perdeu-se hoje mais uma boa oportunidade para esclarecer toda esta situação e criaram-se condições para continuar a alimentar todos estes disparates e complexos de perseguição.

Ou terá sido esta uma forma encontrada no sentido de criar condições para "justificar" alguma surpresa futura?... Os próximos dias o dirão...



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