Eis que Nicolau Santos na sua crónica semanal do Expresso (Economia) de 03-07.2010 resume muito bem todo este processo:
«Ponto 1. o Estado português fez muito bem em ter utilizado a golden share para impedir a compra da Vivo pela Telefónica. As ofendidas virgens do mercado sobem pelas paredes com o crime. Pois convém lembrar-lhes que se há país que mais tem utilizado o poder do Estado para impedir a compra das suas empresas por estrangeiros tem sido precisamente (adivinhem?) Espanha. Os exemplos abundam no sector energético, no sector financeiro, no mercado de combustíveis. Em Itália, Berlusconi impediu que a mesma Telefónica tomasse o controlo da Telecom Italia. E o que fez a Telefónica? Meteu o rabo entre as pernas e veio tentar comer um osso que julgava mais fácil. E na Gália o Governo francês impediu a compra da Danone por uma multinacional, bem como a entrada de investidores estrangeiros no seu sector energético. As virgens ofendidas do mercado têm muitos países onde ir morrer longe, inclusive em Inglaterra onde ainda existem golden shares!
Ponto 2. Ai, mas coitadinhos dos acionistas da PT, que queriam vender e o Estado não deixou! Em primeiro lugar, os acionistas da PT têm beneficiado de um muito agressivo plano de remuneração das ações após a OPA da Sonaecom. Em segundo, suponho que nenhum acionista da PT desconhecia a existência de uma golden shares do Estado. Se pensavam que a dita cuja era assim uma espécie de berloque para colocar na árvore de Natal, sem outra utilização do que nomear um presidente do conselho de administração, mais uns compagnons de route, problema deles.
Ponto 3. Em todo o processo, quem se portou de uma forma altamente reprovável foi a Telefónica. Avançou para a compra da Vivo sem avisar o seu parceiro de há treze anos. Rejeitada, passou às ameaças: que congelava os dividendos da Vivo, que lançava uma OPA sobre a PT. Nunca aceitou conversar com os três principais dirigentes da operadora portuguesa, apesar de ter sido anunciada publicamente a sua disponibilidade. Depois, nervosa e sem nenhum pudor, vende a sua posição na PT a três investidores pintados para poderem votar na AG. Como as autoridades impedem o truque, desenvolve conversas paralelas com alguns acionistas nacionais de referência no dia anterior à Assembleia Geral para garantir que votarão a favor da proposta se aumentar o preço. E em todo este processo, nunca a Telefónica pediu para falar com representantes do Governo português. Há alguma dúvida de quem se portou de uma forma pesporrenta e arrogante? E sobre este comportamento não há nenhuma crítica das virgens ofendidas do mercado?
Ponto 4. A PT sem a Vivo deixa a Liga de Campeões das telecomunicações e passa a jogar nos campeonatos distritais. Mas Portugal também fica muito pior. Até agora, com a Vivo, a PT é um dos maiores empregadores nacionais, sobretudo ao nível dos jovens engenheiros e gestores formados nas escolas portuguesas; uma das empresas que mais atrai o talento nacional; uma das empresas que mais investe no país, em particular na área da inovação; uma das empresas que mais impostos paga; uma das empresas com mais atividade nas áreas de responsabilidade social. Sem a Vivo, tudo será diferente para a PT e para Portugal. A escala será muito mais reduzida, quase paroquial. É isto que o veto do Estado português ao negócio quer impedir. Por isso, foi muito bem utilizado.»
Esta semana, 10.03.2010, volta ao tema como mais uma excelente crónica ("A PT e o seu ex-núcleo duro") para relembrar alguns factos da história da PT e alguns dados que normalmente ficam fora destas discussões, terminando de forma inequívoca:
«O que atrás fica descrito demonstra que estas três entidades [BES, Ongoing e Visabeira] são as que menos se podem queixar da decisão do Governo de proibir a operação. E se tivessem vergonha estavam era muito discretamente calados.»
11/07/2010
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