Mas, pensando bem, não posso culpar as gerações anteriores à minha. A geração do meu pai também foi uma geração à rasca. O meu pai teve que deixar de estudar para ajudar a família a ter rendimento para sobreviver. Também o meu avô, muito antes do meu pai, foi forçado a tomar a mesma decisão. O meu avô teve que fazer milhares de quilómetros para ir trabalhar para poder sustentar a sua família. E tudo isto nos tempos em que não existiam subsídios de desemprego, abonos de família ou quaisquer outros apoios sociais.
É por isso que não consigo ver esta como uma geração "à rasca" que é «obrigada a emigrar se quiser sobreviver». Quantos milhares de portugueses tiveram que emigrar no tempo do meu avô e do meu pai por falta de trabalho... não é um problema de hoje.
Mas no dia em que, e ainda bem!, milhares de pessoas (de todas as gerações e várias nacionalidades) saíram à rua para protestar contra tudo e contra nada (havia protestos para todos os gostos, ideologias e anarquias), no dia em que juntaram professores numa praça de toiros, decidi partilhar convosco a história de um desempregado.
Confesso que é uma história que vos conto com algum alívio por não o fazer na primeira pessoa. É uma história, e não estória, contada na terceira pessoa.
Quem vos conta esta história é alguém cujo rendimento mensal é usado para as despesas correntes do mês para que sua família não tenha que passar por necessidades. Quem vos conta esta história é alguém que conhece a realidade de ter tido, algures no tempo, alguém na família no desemprego com filhos para criar. Quem vos conta esta história é alguém que conhece outros tantos que se apelidam como pertencentes a uma "geração à rasca", mas para pagar alguns copos todos os fins de semana nos bares ou discotecas. Quem vos conta esta história é alguém que luta todos os dias pelo ordenado ao final do mês. Quem vos conta esta história é alguém que tenta poupar o máximo porque não sabe o que lhe poderá acontecer amanhã. Quem vos conta esta história é alguém que já se atravessou algumas vezes, correndo alguns riscos, para defender outros em situação precária. Quem vos conta esta história é alguém que defende o trabalho para todos (diferente do emprego, se é que me faço entender).
E esta história conta-se em poucas linhas. No fim, cada um poderá tirar as suas conclusões. No fim, cada um decidirá a quem dirigir os seus protestos.
Esta é a história de um desempregado que antes estava empregado, considere-se que em situação precária e com um contrato ilegal. Quando a sua entidade patronal decidiu prescindir dos seus serviços esse trabalhador precário, agora desempregado, informou-se sobre a sua condição laboral. Recorreu aos organismos públicos criados para a defesa dos trabalhadores e foi-lhe dito que a razão estava do seu lado. O contrato era efectivamente ilegal e que, de acordo com a actual legislação, o contrato a prazo que havia assinado tinha-o tornado um trabalhador efectivo da empresa.
Ciente desta informação que defenderia a sua posição dentro da empresa e que, na eventualidade duma rescisão, poderia fazer com que pudesse ser compensado, esse ex-trabalhador decidiu aceitar a carta que o encaminhou para o centro de emprego local, sem luta!
As razões, são válidas, eu compreendo-as, mas não as aceito. Este não é um caso de preguiça, garanto-vos.
Agora, e sabendo que este não é um caso único, alguns poderão daqui tirar conclusões.
Protestaremos então! Contra o legislador?... não me parece justo: a legislação defendia o trabalhador. Contra o executor?... não me parece justo: o organismo para defesa do trabalhador funcionou!
Protestemos estão!
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