17/08/2010

Incêndios e memória curta

Todos os anos passamos pelo mesmo: incêndios às carradas!
Milhares e milhares de hectares queimados e, por isso, perdidos. Perdidos para muitos mas ganhos para alguns poucos.
Só este ano já se ultrapassou a barreira dos 50.000 hectares de vida queimada.

E todos os anos os meios são reforçados.
E todos os anos os contribuintes, por via do Estado, despendem milhares, ou milhões melhor dizendo, de euros para os combater os incêndios, renovação das áreas perdidas e compensações aos que perderam os seus bens no fogo.
E todos os anos há uma enorme percentagem de incêndios que começam com o sol abrasador da noite!
E todos os anos temos algumas (talvez poucas) dezenas de agentes da PJ envolvidos na investigação destes incêndios!
E todos os anos se prendem algumas dezenas de suspeitos!
E todos os anos se condenam poucos incendiários - que no ano a seguir estão novamente prontos e em forma para uma grande e produtiva "época de incêndios"!
E tudo se repete no ano seguinte...

Mas como disse Vasco Franco, Secretário de Estado para a Protecção Civil, há uns dias em entrevista na Antena 1, as pessoas "têm memória curta" e que nestas alturas a tendência é para esquecer o que está para trás e aumentar a dimensão dos acontecimentos recentes - evidência disso mesmo foi um recente artigo de opinião do Prof. Cardoso Rosas sobre as suas "Arrumações de Verão" onde diz ter encontrado um jornal de há 10 anos que dava a conhecer que «o país estava a arder».
Afinal, não estamos em pior situação do que em anos anteriores. A memória é que é fraca. Principalmente como começa o calor!

Dizem-nos repetidamente que os responsáveis por todas estas desgraças, de antigamente e de hoje, são, nem mais nem menos, os "proprietários" das terras que, impunemente, continuam a criar condições para que estes cenários se repitam. Os "proprietários" deveriam fazer a limpeza das matas e dos caminhos! E estes incêndios só atingem esta escala porque os "proprietários" não fazem o que deviam!
Mas o presidente da Autoridade Nacional Florestal, Amândio Torres, tocou num ponto muito importante e quase sempre esquecido: «para limpar é preciso dinheiro, sendo difícil transferir de magros orçamentos familiares».

Admitindo que a questão económica não estivesse na origem do problema da falta de limpeza das matas e florestas, ainda que generalizada, poder-se-ia considerar justa esta acusação; o problema é que quando se aponta o dedo aos "proprietários" acrescenta-se quase sempre a palavra "privados".
E os outros?
Será que não há mais proprietários além dos "privados"?
E os terrenos e áreas pertencentes ao Estado e aos Municípios estão todas limpas e isentas de risco?
Estas são as perguntas que, frequentemente, me assolam a mente quando se responsabilizam os "proprietários"...
Naturalmente que o não cumprimento de uns não é desculpa para o incumprimento dos outros... mas torna-se grave quando são os "outros" que acusam os "uns" por incumprimento!

No concelho que escolhi para viver, zona de muito agrado de D. João V, costumo dar umas voltas com o intuito de o explorar, não só na procura de caminhos alternativos como no de ficar a conhecer um pouco melhor a região.
Pois ontem ao regressar duma incursão a uma superfície comercial para abastecer um pouco a despensa, vinha numa dessas rotas alternativas a ouvir as notícias que davam conta do mapa de incêndios em Portugal e onde, uma vez mais, se falava na falta de limpeza das florestas. Os "proprietários"!
Anui com a cabeça e as perguntas voltaram a surgir na minha cabeça. Foi então que obtive uma resposta: Há terrenos municipais que não estão limpos! Também há municípios responsáveis por não limpar os terrenos! Afinal há mais para além dos "privados"!

Na estrada que percorria, que até me parece ter trânsito a mais para as condições que oferece (estreita e sinuosa), e onde, curiosamente, surgiu um foco de incêndio há bem pouco tempo, as bermas - desde o alcatrão até às vedações dos "proprietários privados" - encontram-se cheias de mato! Seguramente com mais de 1,20m de altura... contiguas a zonas extensas de eucaliptos!
Basta uma pequena brisa e uma ponta de cigarro criminosamente lançada pela janela dum carro e o problema está instalado!

Mas situações destas há, seguramente, mais no concelho onde vivo assim como noutros concelhos espalhados pelo país fora!!
Infelizmente é um cenário que se repete vezes sem conta!

Também por isto concordo com Vasco Franco: a memória é curta!
A memória é curta quando se acusam outros sem olhar ao facto de se estar a incorrer no mesmo desmazelo, no mesmo erro, no mesmo crime; a memória é curta quando os dirigentes municipais se esquecem que também eles são responsáveis pelo "combustível" que muitas vezes ajuda a propagar incêndios; a memória é curta na assumpção das responsabilidades; a memória é curta porque muitas destas intervenções essenciais só ocorrem de 4 em 4 anos...

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